Da (quase) vinda do pintor Paul Rubens a Vila Viçosa. Grada 111. A fronteira

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Francisco Bilou

O pintor Peter Paul Rubens (1577-1640) é um dos mais geniais pintores da história da pintura europeia. Filho de Joannes Rubens e de Maria Pypelinckx, nasceu quando os seus pais viviam na Alemanha, fugidos da ocupação espanhola das províncias holandesas durante o reinado de Filipe II.

Com apenas dez anos de idade, e já depois da morte de seu pai, regressaria a Antuérpia, terra natal de sua mãe. Após 1591 aprendeu o ofício de pintura nas oficinas de Adam van Noort e Otto van Veen, onde permanecerá até 1598. Em 1600 rumou a Itália, onde trabalhou ao serviço de Vincenzo Gonzaga, Duque de Mântua, tornando-se seu pintor oficial. Viajou então por Florença, Roma e Veneza, locais onde descobriu e estudou os grandes mestres italianos do Renascimento e alguns seus contemporâneos. Estando ainda em Itália em 1603, foi enviado em missão diplomática a Madrid, junto do rei Filipe III.

Regressado a Espanha em 1628, Rubens aceitou a missão diplomática de Filipe IV, aceitando viajar para Inglaterra para mediar o tratado de paz entre os dois países. Retornando uma vez mais a Madrid, entre 1636 e 1638 desenhou para a Torre de la Parada um pavilhão de caça para o rei com perto de sessenta cenas a maioria mitológicas.

Foi precisamente no contexto desta campanha artística que D. João, Duque de Bragança (rei de Portugal após 1640), endereçou um convite ao pintor flamengo para que visitasse o paço de Vila Viçosa. Sabemo-lo a partir desta curiosa (e pouco conhecida) nota biográfica publicada por Roger de Piles (1635-1709), na obra ‘Abregé de La vie des Peintres’, editada em Paris, em 1699 (p. 338-339), relato que aqui deixamos vertido por nós do francês:

(Tendo Rubens ficado em Espanha) “D. João Duque de Bragança (que foi em seguida rei de Portugal), que amava a Pintura, tendo ouvido falar de Rubens, escreveu a alguns Senhores seus amigos para que Rubens pudesse visitar Vila Viçosa que era a sua residência. Rubens comprometeu-se com prazer com essa viagem, mas como os amigos desse Duque o avisaram que Rubens tinha partido num trem magnífico isso apavorou-o tanto que ele enviou um cortesão ao seu encontro para lhe dizer que o Duque seu mestre tinha sido forçado a partir por causa de um assunto de estado importante, pedindo a Rubens para não continuar a viagem e aceitar um presente de cinquenta pistolas para o compensar dos gastos da despesa com o caminho. Rubens recusou as cinquenta pistolas respondendo que ele não tinha necessidade daquele pequeno presente e que ele já tinha feito duas milhas para estar na corte daquele Duque estando a pensar aí permanecer quinze dias”.

Poderá haver nesta história picaresca algum exagero por parte do cronista. Mas convém notar o enquadramento histórico que então se vivia em Portugal nas vésperas da Restauração, lembrando precisamente as ‘Alterações de Évora’ de 1637, talvez o ano em que Rubens se pôs efemeramente a caminho de Portugal…

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