Mateus de Aranda, mestre espanhol da capela da Sé de Évora. Grada 124. A fronteira

Léelo en solo 3 minutos !!

Francisco Bilou

Mateus de Aranda nasceu por volta de 1495 em Aranda de Duero, então Reino de Castela. Recebeu certamente formação escolástica e musical antes de vir para Portugal, de onde não mais sairia. Entre 1528 e 1544, durante o múnus episcopal de D. Afonso e D. Henrique, foi mestre de capela da Sé de Évora, sendo o mais antigo mestre documentado neste ofício.

Diga-se, a propósito, que o cargo de ‘mestre de capela’ de uma catedral tão importante como a de Évora ao tempo do Bispo D. Afonso (irmão do rei D. João III), só poderia ser atribuído a quem se apresentasse com conhecida experiência e, naturalmente, boa recomendação, o que faz quere que um dos locais de formação de Aranda possa ter sido a Universidade de Alcalá, local onde estudou, recorde-se, o ilustre eborense André de Resende ainda na segunda década do século XVI.

Antes de rumar a Coimbra onde professou na recém-criada Universidade até à morte (1548), Aranda destacou-se na capital alentejana quer ao nível pedagógico, quer ao nível da produção de teoria musical sob a forma de tratados: o ‘Tractado de canto Llãno’ (Lisboa: Oficina de Germão Galharde, 1533) e o ‘Tractado de canto mensurable’ (Lisboa: Oficina de Germão Galharde, 1535). O primeiro dedicado à monodia litúrgica, o segundo à prática polifónica.

Mateus de Aranda, como o primeiro tratadista musical ibérico, deu fama à celebre Escola Polifónica da Sé de Évora que, durante toda a segunda metade do séc. XVI, manteve um invejável estatuto entre as grandes escolas musicais europeias a que correspondeu uma linhagem de ilustres polifonistas.

Do tratadista espanhol e da importância da Escola Polifónica da Sé de Évora nos deu conta o saudoso cónego eborense José Augusto Alegria com valiosos contributos históricos, continuando a ser ainda hoje o autor de referência neste domínio.

Mais modernamente, têm alguns estudiosos portugueses considerado o “tratado de cantochão” de Mateus de Aranda como uma obra que, não primando “pela elegância expositiva nem pela originalidade intelectual”, surpreende pela sua precocidade no contexto da produção musical ibérica e pela “inclusão de uma série de antífonas compostas pelo próprio autor, que exemplificam ao pormenor os princípios por ele seguidos no tratamento da monodia sacra e servem como base de um curso intensivo de solmização e aplicação de música ficta” (in, Mateus de Aranda: “o Tractado de cãto llano (1533) – Notas de leitura”. Revista Portuguesa de Musicologia, n. 14-15, Lisboa, 2004-2005, pp. 131-186).

Note-se, por fim, que um Diogo de Aranda se documenta na Casa da Rainha Dona Catarina de Áustria, irmã de Carlos V e esposa de D. João III, aparentemente com ofício de organeiro. Em março de 1556 a rainha lhe mandará dar, por Afonso de Zuniga seu tesoureiro, 6.000 réis por lhe ter concertado um “craviórgão e três órgãos”.

Esta proximidade musical selada por um mesmo apelido de origem geográfica faz supor trata-se de um familiar de Mateus de Aranda. De facto, é relativamente bem conhecida lista de músicos e tangedores de órgão na corte portuguesa dos reinados de D. Manuel e D. João III, dos quais fazia parte outro espanhol, João de Badajoz, sendo o ‘cego Francisquinho’ “o grão sabedor nos órgãos”, como relata o poeta e cronista eborense Garcia de Resende.

¿quieres saber más?

Summary
Mateus de Aranda, mestre espanhol da capela da Sé de Évora. Grada 124. A fronteira
Article Name
Mateus de Aranda, mestre espanhol da capela da Sé de Évora. Grada 124. A fronteira
Description
Mateus de Aranda nasceu por volta de 1495 em Aranda de Duero, então Reino de Castela. Recebeu certamente formação escolástica e musical antes de vir para Portugal, de onde não mais sairia. Entre 1528 e 1544, durante o múnus episcopal de D. Afonso e D. Henrique, foi mestre de capela da Sé de Évora, sendo o mais antigo mestre documentado neste ofício.
Author