O pintor Baltazar Gomes Figueira (1604-1674), de Sevilha à sua quinta da Capeleira, em Óbidos. Grada 131. A fronteira

Léelo en solo 2 minutos !!
O pintor Baltazar Gomes Figueira (1604-1674), de Sevilha à sua quinta da Capeleira, em Óbidos. Grada 131. A fronteira

Francisco Bilou

Permanece desconhecida a razão que levou um jovem português, aparentemente talhado à carreira militar e filho de um mercador ambulante (‘tendeiro’), a interessar-se, já em Sevilha, não só pela ‘imaginária de óleos’ como a fazer dela a sua principal razão de vida. Mais estranho, ainda, se tivermos bem presente que Baltazar Gomes Figueira, sem antecedentes artísticos conhecidos, fez o seu aprendizado com os melhores pintores andaluzes, com destaque para Francisco Zurbarán, que à época (1633) pintava para Lisboa os ‘Doze Apóstolos’ (destinados ao Paço Patriarcal de São Vicente de Fora, hoje no MNAA). O certo é que nos seus dez anos de permanência em Sevilha o jovem pintor português chamou a atenção, decerto por capacidades inatas, de artistas consagrados da capital hispalense. Além de Miguel Guelles, Juan del Castillo e, acaso, Francisco Pacheco, foi o caso particular do pintor Francisco de Herrera, ‘el Viejo’, que apadrinhou (e isto só pode dever-se a uma estreita relação laboral) o batismo de Josefa de Ayala, primeira filha de Baltasar Gomes Figueira e de Catarina Camacho de Cabrera Romero, cerimónia acontecida na igreja de San Vicente de Sevilha, em 1630.

O certo é que Baltasar Gomes Figueira já surge documentado em Peniche numa obra de pintura, em 1635. Local de nascimento, aí reside temporariamente e aí lhe nasce outra filha, antes de rumar a Óbidos.

Baltazar foi o introdutor no gosto visual português de um género de pintura até aí pouco ou nada valorizado e que em Espanha, particularmente na esfera de produção pictórica de Madrid, se conhecia por ‘bodegón’. Se dúvidas houvesse quanto à superior competência artística de Baltazar nesta modalidade, aí temos a notável natureza morta do Louvre (‘Natureza morta com laranjas, cebolas, peixe e caranguejo’), uma das mais belas obras do género que o século XVII deu à arte europeia, assinada e datada (1645) e que durante largo tempo foi a única obra de um pintor português no célebre museu parisiense.

Com família grande e alguns recursos económicos, o pintor possuía, a 2 km dos muros da vila de Óbidos, uma quinta no lugar da Capeleira, de que lhe tomou o nome.

Esta quinta, hoje em ruínas, conserva uma tipologia de pequeno paço rural com casas nobres sobradas coroando um longo corpo térreo de cómodos utilitários, a que lhe acresce uma casa sobressaltada do lado nascente, talvez originalmente a habitação dos caseiros. Aqui pintou Baltazar Gomes Figueira até 1674, ano da sua morte, e sobretudo Josefa de Ayala (ou de Óbidos) desde esta data até 1684, ano do falecimento da pintora.

¿quieres saber más?

Summary
O pintor Baltazar Gomes Figueira (1604-1674), de Sevilha à sua quinta da Capeleira, em Óbidos. Grada 131. A fronteira
Article Name
O pintor Baltazar Gomes Figueira (1604-1674), de Sevilha à sua quinta da Capeleira, em Óbidos. Grada 131. A fronteira
Description
Permanece desconhecida a razão que levou um jovem português, aparentemente talhado à carreira militar e filho de um mercador ambulante (‘tendeiro’), a interessar-se, já em Sevilha, não só pela ‘imaginária de óleos’ como a fazer dela a sua principal razão de vida
Author