O caminho de Elvas a Arraiolos, no final do séc. XVII. Grada 132. A fronteira

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Francisco Bilou

Já aqui nesta revista escrevemos sobre caminhos antigos e respetivas impressões de viagem. Ficou claro, então, que o caminho mais importante no percurso viário entre Madrid e Lisboa era o que, rumando a Badajoz, seguia por Elvas, Estremoz, Arraiolos, Montemor-o-Novo e Aldeia Galega (Montijo), local de atravessamento do rio Tejo. Não surpreende, por isso, que seja neste mesmo alinhamento direcional que se encontrem localizadas algumas das principais refregas entre castelhanos e portugueses ao longo da sua História comum (Atoleiros, Montes Claros, Ameixial).

Precisamente em 1700 era editado em Amesterdão, por um tal ‘Senhor M…’, uma memória da sua viagem a Espanha e Portugal (‘Voyages faits en divers temps en Espagne, en Portugal, en Allemagne, en France et ailleurs’), escrita anos antes, decerto após o final da chamada Guerra da Restauração (1640-1668). É desta memória que respigamos a parte correspondente à descrição do caminho entre Elvas e Arraiolos (pp. 183 a 185); tradução nossa do francês com pequenos acrescentos informativos, entre parênteses:

“A meio caminho entre Badajoz e Elvas, que é uma légua e meia, encontramos uma pequena ribeira que faz a separação de Castela com Portugal. Antes de entrar em Elvas, que se vê de muito longe, passa-se a um bosque de oliveiras (olival) e, à mão esquerda, descobre-se um forte armado com quatro bastiões, situado à mesma altura da cidade, que é muito bem fortificada com bons panos de muralha ao seu redor. Há dez companhias por guarnição militar, perfazendo perto de mil homens. As ruas (de Elvas) são belas e as casas bem conservadas. Esta cidade é grande e nela se começou a imitar os costumes franceses, como os sapatos largos e compridos e abas de renda. Surpreende ver (em relação a Espanha) uma tão brusca mudança de hábitos e de linguagem (…). No interior de Elvas há uma grande cisterna, que pode abastecer de água esta cidade por espaço de seis meses em caso de necessidade. O vinho é melhor do que em Espanha. Neste mesmo dia partimos pelas três horas da tarde para podermos ir dormir em Estremoz, que dista seis léguas. (Chegados a Estremoz) contornámos o lugar que é grande e muito bonito. As casas são todas brancas por fora, o que lhe dá um aspeto muito belo. Esta vila é muito povoada e fortificada. Trabalha-se ainda agora nas suas fortificações. Está situada sobre uma colina, onde surgem dois castelos arruinados. A vila não tem mais que duas guarnições militares. Aqui começa-se a ver os portugueses a trajarem ao uso da terra.

Dia 15. Deixamos Estremoz ao meio dia para percorrer seis longas léguas, até irmos dormir a Arraiolos. Vimos, no caminho, um grande forte à esquerda (Évora Monte), construído sobre uma montanha. Encontrámos pelo caminho pequenos redutos militares que serviram no tempo da guerra (da Restauração) para observar o inimigo. Este lugar (Arraxolos) é assaz grande. Tem o seu velho castelo no mais alto da colina e é do tempo em que os reis de Portugal ainda não eram Duques de Bragança (…). Viaja-se com muita incomodidade em Portugal. Nesta estrada não existem lugares de pernoita e com muita sorte se encontra um mau colchão para dormir sobre a terra.”

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O caminho de Elvas a Arraiolos, no final do séc. XVII. Grada 132. A fronteira
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O caminho de Elvas a Arraiolos, no final do séc. XVII. Grada 132. A fronteira
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