Gabriel del Barco, pintor de azulejos, em Évora. Grada 113. A Fronteira

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Francisco Bilou

Nascido em Singüenza (Guadalajara) no ano de 1648 e recebendo o nome próprio do seu padrinho, Gabriel del Barco, fez o seu percurso artístico desde muito novo em Lisboa, onde, na especialidade de pintor de azulejos, se tornou no maior ‘oficial’ do chamado período de ‘transição’ da azulejaria portuguesa.

Viajado a Madrid em circunstâncias ainda desconhecidas com apenas 18 anos, del Barco entrou ao serviço do diplomata Charles Watteville, acaso já com algum tipo de afiliação artística. Mais certa, contudo, é a sua desvinculação ao embaixador espanhol já em Lisboa dada a prematura morte deste, facto ocorrido logo em 1670.

Surpreendentemente, acabado de chegar a Lisboa no final de 1668, Gabriel del Barco matrimonia-se, logo em julho do ano seguinte, com Agostinha das Neves, cunhada e moradora nas casas do pintor Marcos da Cruz, figura tutelar com quem decerto del Barco aprendia então o ofício.

Deste aprendizado com Marcos da Cruz resultará, no imediato, uma actividade de pintura a óleo, essencialmente de cariz decorativo na especialidade de brutesco, como são os exemplos dos tectos das igrejas de São Luís dos Franceses (1681) e do convento da Divina Providência (1689), ambos desaparecidos com o terramoto de 1755.

A obra mais antiga de Gabriel del Barco está datada de 1689 e situa-se na igreja do Convento do Espinheiro, em Évora.

Dadas as condicionantes espaciais, os mistérios gozosos e gloriosos da Virgem, desenvolvem-se em altura através de dois registos colaterais onde figuram a Anunciação (onde, aliás, o pintor assina e data a obra), a Visitação, a Assunção, a Coroação de Maria, o Presépio, a Adoração dos Pastores, a Apresentação do menino no Templo, a Purificação de Nossa Senhora e a Imaculada Conceição.

Pelo que podemos subentender pela sequência de obras produzidas entre 1689 a 1700 e respectiva dispersão territorial (Barcarena, Lisboa, Évora, Arraiolos, Beja, Redondo e Portalegre), algumas das quais datadas do mesmo ano mostram que o pintor espanhol vivia inteiramente dedicado à sua oficina, o que lhe não deve ter permitido acompanhar ‘in loco’ a demorada montagem dos painéis, esta talvez assumida por colaboradores oficinais.

Além da igreja de Nossa Senhora do Espinheiro, Évora conserva mais três obras de Gabriel del Barco, todas, aliás, datadas (ou datáveis) de 1699-70: o revestimento azulejar da nave das igrejas dos Lóios e de Santiago e o da sala da Irmandade do Santíssimo Sacramento da igreja paroquial de São Mamede. Todas elas exemplos maiores da arte de Gabriel del Barco, espanhol de nascimento e português de adoção, a quem se deve, senão a genialidade criativa, ao menos (e não é pouco) o desbravamento de novos rumos estéticos para a azulejaria portuguesa.

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