A igreja da Misericórdia de Olivença. Grada 123. A fronteira

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Francisco Bilou

Datará de época pouco posterior a 1501, senão mesmo deste ano, a fundação da Misericórdia de Olivença, à imagem da maioria das ‘misericórdias’ instituídas no reinado de D. Manuel I, pela ‘rainha velha’ D. Leonor. No entanto, a sua primeira referência documental data apenas de 1515, então uma simples capela sita na igreja matriz. Após a passagem provisória pela igreja do Espírito Santo (esta reformada em 1546) só à volta de 1548 se iniciaram as obras da nova sede da Santa Casa da Misericórdia oliventina, muito ajudadas por Aires de Quintal, ao ponto de nelas se prever a construção anexa de um hospital. O projeto arquitetónico resultante desse investimento quinhentista, que ainda hoje remanesce, apresenta uma única nave coberta por abóbada de canhão, coro alto sobre tripla arcaria de colunas marmóreas com capitéis jónicos, e capela-mor ressaltada com arco triunfal de volta perfeita.

Entre o final do século XVII e a primeira metade do século XVIII a Misericórdia de Olivença voltou a ter obras de beneficiação intestina, num típico processo de atualização do gosto mais consentâneo com os preceitos tridentinos de ‘arte total’. Assim, logo em 1689 foi encomendada nova tribuna e trono para o altar-mor ao entalhador calipolense Bartolomeu Dias, o qual se dourou, dois anos depois, em obra dirigida por Agostinho Mendes, de Elvas. Seguiu-se a grande encomenda artística de revestimento azulejar assinada pelo pintor Manuel dos Santos, em 1723. Deste ano deve ser o novo retábulo-mor e, acaso, os retábulos colaterais.

O que mais notabiliza este belo templo oliventino é, precisamente, esta campanha azulejar, sobretudo a que reveste as paredes da nave do tempo e que retrata as 12 obras da misericórdia. Mas se este programa azulejar está bem documentado quanto à autoria (Manuel dos Santos) e quanto à data de finalização (1723), o mesmo se não pode dizer da campanha decorativa da capela-mor, de traça diferente e possivelmente de produção ligeiramente anterior (1716-1718), facto que, segundo alguns autores portugueses, se poderá atribuir ao desconhecido monogramista do ‘Ciclo dos Mestres’: P.M.P.

A verdade é que a qualidade da empreitada decorativa, até pelas particularidades iconográficas dos painéis azulejares e os retábulos de talha (que ficaram por dourar por falta de condições monetárias) merece bem uma visita demorada. Não é a única razão para se visitar Olivença, sobretudo se nos lembramos da notável igreja da Madalena ou da singular ‘Árvore de Jessé’ da matriz, mas talvez seja este um dos mais ponderosos apelos estéticos a quem gosta de Arte em geral e da cultura portuguesa em particular.

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A igreja da Misericórdia de Olivença. Grada 123. A fronteira
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A igreja da Misericórdia de Olivença. Grada 123. A fronteira
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Datará de época pouco posterior a 1501, senão mesmo deste ano, a fundação da Misericórdia de Olivença, à imagem da maioria das ‘misericórdias’ instituídas no reinado de D. Manuel I, pela ‘rainha velha’ D. Leonor
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