Leonardo Torriano e o Aqueduto de Lisboa. Grada 128. A fronteira

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Leonardo Torriano e o Aqueduto de Lisboa. Grada 128. A fronteira

Francisco Bilou

Remontam ao início do século XVII as primeiras tentativas documentadas para conduzir a ‘Água Livre’ a Lisboa sobre o traçado topográfico do aqueduto romano de Olisipo. Com efeito, em 1618 foi deliberado pela vereação lisboeta “com parecer do vice-rei (…) trazer á cidade a fonte d’agua liure, que ja em tempos antigos ueo a ela, como se ue dos sinaes dos canos que ainda oje se achão, com as mais fontes que se lhe juntam, e outras que pelo caminho se lhe ande ajuntar (…)”1. Para que tal fosse possível foi necessário fazer as necessárias observações aos débitos das nascentes, operação realizada naturalmente em Setembro, no fim do Verão, para que deste modo não restasse dúvida sobre a abundância e a qualidade dos mananciais situados na zona de Belas. Esta tarefa foi realizada pessoalmente pelo vice-rei (Marquês de Alenquer) e do resultado desta indagação se informou a corte em Madrid, nesse mesmo ano.

Logo no ano seguinte (1619), Filipe II (de Portugal), em visita a Lisboa, terá ele próprio visitado “as ruínas do velho aqueduto romano e a barragem, com intenção de promover a sua reconstrução ou substituição”2, circunstância que, a ser verdade, parece quadrar bem com a referida troca de correspondência entre a câmara lisboeta e o rei e que teve como epílogo a vinda a Portugal, em 1620, do italiano Leonardo Torriano (1559-1628), um dos mais dotados e respeitados arquitetos da corte Filipina, de resto responsável por vários projetos militares e civis de grande dimensão e qualidade, distribuídos pelo vasto território dos Habsburgos, particularmente na Península Ibérica.

Das diligências feitas por Torriano sabe-se por carta expedida para corte a 24 de Setembro de 1620 que ele propôs quatro ‘caminhos’ (traçados) alternativos para conduzir a ‘Água Livre’ a Lisboa, explicando para cada um deles o respetivo percurso topográfico bem como os custos financeiros previstos. Na carta esclarece ele que os “quatro caminos y pareceres (…) empieçam cerca de la estrada de Bemfica, como parece en la pranta”, ficando assim subentendido que o troço de aqueduto até aí não levantava dúvidas (naturalmente sobrepondo ou seguindo de perto o antigo). Enunciadas as três diferentes soluções, Torriano deixou intencionalmente para o fim a última opção: “El quarto y ult.º camino, es por el aqueducto antigo de los Romanos, el qual, por ir mas alto diez palmos que el de la estrada, puede dar agua a ambas partes de la ciudad, a São Roque y sobre la puerta de Sto Andre, como dio antiguamente, pues habra quantidad bastante para ellas”3.

A pesar destas diligências (que, aliás, constituem prova inegável da existência do aqueduto romano de Olisipo), o certo é que a obra não foi imediatamente realizada. Entre dúvidas técnicas e, sobretudo, falta de recursos financeiros, a obra de construção do aqueduto das Águas Livres só se consumou muito mais tarde, entre 1731-1748, já reinando de D. João V e numa época em que o ouro vindo do Brasil permitia uma maior disponibilidade financeira.

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1 Freire de Oliveira. ‘Elementos para História do Município de Lisboa’. Vol. I. Lisboa, 1885, Vol. II, pp. 416-423
2 D. Fernando de Almeida, ‘Sobre a barragem romana de Olisipo e seu aqueduto’. O Arqueólogo Português. Série III, Vol. III, 1969, pp. 179-189
3 Freire de Oliveira, ob. cit., pp. 573-574

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Leonardo Torriano e o Aqueduto de Lisboa. Grada 128. A fronteira
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Leonardo Torriano e o Aqueduto de Lisboa. Grada 128. A fronteira
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Remontam ao início do século XVII as primeiras tentativas documentadas para conduzir a ‘Água Livre’ a Lisboa sobre o traçado topográfico do aqueduto romano de Olisipo.
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