Uma notícia inédita da vila de Moura, em 1634. Grada 122. A fronteira

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Francisco Bilou

A história das nossas cidades e vilas também se constrói de migalhas documentais, expurgadas pacientemente aos velhos alfarrábios. Trabalho nunca acabado, exigente por natureza e nem sempre compensador, todavia, de irresistível fascínio para quem se dedica a essa magna tarefa de perscrutar o murmúrio do passado.

E porque nesta revista o temos feito amiúde sobre Évora, sempre com assento na relações históricas luso-espanholas, não resistimos a publicar esta notícia da vila de Moura, que ainda assim nos trás esse topónimo tão antigo do lado de lá da fronteira (Aroche), ainda hoje sobrevivente na toponímia local. Aliás, boa parte da toponímia constante do documento é reconhecível e enquadrável numa área junto à igreja de São João Baptista. Área pobre e talvez periférica no início do século XVII, onde surpreende a quantidade de mulheres pardas (mestiças) e em cujas portas figurava um letreiro (azulejo?) com o nome do proprietário (Arcebispo). Eis o documento integral:

“No tombo das capellas da villa de Moura que o cabido sede vacante por sua Provisão feita pelos escrivãos da Camara Marcos dias em 7 de janeiro de 1634 pello qual fez o dito tombo o licenciado Antonio ferreira com o escrivão da vigararia da dita vila Manuel Botelho e nelle consta a fl. 3 ter a Meza Pontifical da Mitra deste Arcebispado de Evora varias moradas de cazas na dita villa ao diante declaradas por nellas morarem viuvas pobres pelo amor de Deos segundo as Jnstituições de quem as deixou ao dito Prelado cujos nomes se não declara das referidas jnstituidoras e são as cazas seguintes: 1 Huma morada de cazas na rua de Espirito Santo que partem com a serventia do Conselho e são huma caza terrea e outra descuberta e nela vive Violante Fernandes viuva / 2 Outras cazas no fim da Rua Longa defronte do forno que he huma só caza e parte com outras da Mitra e nella vive a viuva de Francisco Vaz d’Ansada / 3 Outras cazas no fim da dita Rua Longa e parte com outras da Mitra e he caza dianteira e seleiro e nelas vivem duas mosas orphãas Maria Rodrigues e sua jrmãa / 4 Outras cazas na rua da (…?) aseira Barbeira (sic) que he huma só caza na qual vive Maria Maria Rodrigues viuva e mulher parda e parte com cazas de Antonia Rodrigues de mor Soares vendedeira / 5 Mais outras cazas na travessa da Rua dos cantos de Maria de Aroche que he huma caza e nela vive a viuva Maria Lopes a grila molher parda / 6 Outras cazas na rua dos asougues dos meudos que he huma só caza e nela vivem duas orphãas Antónia (?) e Brites Rodrigues / 7 Outras cazas na rua da Capinha Rota e partem com rua Longa e são huma caza e serventia e quintal e nela vivem Jsabel Carrasca e Godinha viuva / 8 Outras cazas na Rua de Aroche que he caza dianteira e seleiro e nela vive Domingas da Rocha mulher parda viuva / 9 Outras cazas na Rua das Vendeiras (sic) que são duas cazas terreas com seu poso e nelas vive Maria Carrasca viuva / 10 Outras cazas na Rua da Romeira em que vive Maria Afonso viuva e terceira e partem com cazas de António Rodrigues trapeiro / 11 Outras cazas na Rua de Santo Agostinho e são duas cazas terreas e nelas vive Anna Vaz viuva, etc. (nota à margem: todas estas casas tem ensima da porta Litreiro que diz o seguinte Arcebispo”.

Arquivo Nacional Torre do Tombo. ‘Noticias de Évora’, Genealogias Manuscritas, 21-F-40, fls.124-124v (Inédito)

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Uma notícia inédita da vila de Moura, em 1634. Grada 122. A fronteira
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Uma notícia inédita da vila de Moura, em 1634. Grada 122. A fronteira
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A história das nossas cidades e vilas também se constrói de migalhas documentais, expurgadas pacientemente aos velhos alfarrábios. Trabalho nunca acabado, exigente por natureza e nem sempre compensador, todavia, de irresistível fascínio para quem se dedica a essa magna tarefa de perscrutar o murmúrio do passado.
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