Viajar de Madrid a Lisboa no Século XVII. Grada 127. A fronteira

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Grada 127. A fronteira

Francisco Bilou

A viagem terrestre de Madrid a Lisboa no século XVII não era certamente melhor que a dos séculos precedentes, pois nada se alterara na melhoria dos velhos caminhos, em parte de origem romana, nas estruturas de apoio aos viajantes e até na própria forma de locomoção, grandemente feita a pé ou sobre bestas muares. Imagina-se todo o desconforto possível: ao sol ou à chuva, a maior das vezes sem estalagens (vendas, no Alentejo) e as poucas existentes com péssimas instalações de acolhimento e pernoita, a comida aí servida sempre pouca e de má qualidade, enfim, os percalços próprios de uma viagem demorada, fossem eles causados por ocorrências naturais, imprevistos de saúde ou investidas de bandoleiros e malfeitores.

Com tais condicionantes não admira que circulassem entre os viajantes mais abastados (ou prevenidos) verdadeiros ‘guias de viagem’ com conselhos e informações úteis, sobretudo para quem tinha necessidade de fazer largas distâncias entre reinos diferentes. É o caso da ‘Discripcion del caminho de Yrún para madrid y Portugal’, raro manuscrito anónimo com notas (“curiosas e necessárias”) de viagem no espaço ibérico que se conserva na Biblioteca Nacional de França. É dele que respigamos algumas notas sobre o caminho de Madrid a Lisboa.

Após um percurso por Talavera, Guadalupe, Mérida e Badajoz os conselhos seguintes referem-se à passagem da fronteira: “a las guardas que les saltarán sobre la puente de Badajoz, que serán dos tropas, una de la Aduana, y la outra del dinéro (…) A la sobreguarda quiçá les saldrá al caminho, lo próprio que en Yélves, que yrán a comer, que es el primero en Portugal, yr a cauallo a la Aduána y de como no llevar cosa de que pagarla, pedir a las guardas de la puente de los quartos de Castilla, y ansi si alguma les a sobrado quando hasta la huelta de Badajoz.

De Yélues, sacar pan para tres dias porque a Lisboa no le hallarán buéno uianda em Yélues, o en estrémos donde yran dormir, se pueden prouéer hasta Lisboa.

Estremos yrán el dia seguinte a dormir a monte mayor, madrúguen que tienen una gran jornada.

Montemayor yrán a dormir a Aldeagalea (Aldeia Galega, atual Montijo), madruguen que es larga jornada.

Aldeagalea a Lisboa yran por agua sobre el rio. Cada hombre paga um real, y cada mula dos. (Conviene) passar dos mulas a Lisboa, porque puéden yr a ver el Castillo de san Juan (sic), y otras cosas notables, (y otras que) ay dos o tres léguas de Lisboa, alli hallarán quien les dirá las cosas que ay que ver el mismo huespede donde posáren. Es necessario tenerse seis o ocho dias para verlo que ay”.

Também por este ‘guia’ (feito também com propósitos culturais de visita às principais cidades da Península Ibérica) ficamos a saber que a viagem terrestre de Lisboa a Sevilha contemplava uma rota bem mais longa do que aquela que seria a mais racional fazer atravessando o Alentejo por Évora, Beja e Serpa, seguindo pela Serra de Aracena: “en Lisboa sacar de comer para hasta Yélves que es caminho de tres dias. Primero al Aldeagalea. 2 Montemayor. 3 a Estremos.

Yelues a comer, e yr a cauallo a la Aduána registrar si traher alguma cosa nueua, y luego el dinero, y pagar los deréchos que son de cada ciento uno (a los) Guardas de la Aduána, y las del dinero y as sobreguardas contentarlas com lo menos que pudiéren.
Dormir a Badajoz. De Badajoz a Zafra, a Lerena, a Cordova e Sevilla”.

Bibliothèque Nationale de France. Département des manuscrits. italien 728, Relazione dello stato di Toscana nel 1621 d’un ambasciatore veneto, fls. 342-349.

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Viajar de Madrid a Lisboa no Século XVII. Grada 127. A fronteira
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A viagem terrestre de Madrid a Lisboa no século XVII não era certamente melhor que a dos séculos precedentes, pois nada se alterara na melhoria dos velhos caminhos, em parte de origem romana, nas estruturas de apoio aos viajantes e até na própria forma de locomoção, grandemente feita a pé ou sobre bestas muares
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