Nicolau Chanterene, um insigne escultor do Renascimento ibérico. Grada 135. A fronteira

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Nicolau Chanterene, um insigne escultor do Renascimento ibérico. Grada 135. A fronteira

Francisco Bilou

Nicolau Chanterene é talvez o escultor do Renascimento ibérico melhor estudado. E percebe-se porquê do percurso artístico começado na Galiza (1511) e continuado em Portugal (1517-1551) resultou uma obra escultórica de invulgar qualidade estética e inovação artística, segundo os modelos do renascimento italiano. Ao contrário, a sua vida continua envolta em mistério. Desde logo por não se saber quando nasce ou morre, fazendo com que os anos de 1470 a 1551 sejam, por convenção, os limites temporais da sua vida. Depois porque não se lhe conhece qualquer formação ou itinerância artística antes de se documentar nas obras do Hospital Real de Santiago de Compostela (1511). E, enfim, por ser a sua vida privada um vazio documental, apenas se sabendo que era de origem francesa, deixou uma filha de nome Hermione Nicolau e que o seu temperamento era pouco dado a convenções, talvez mesmo rebelde; chegou, aliás, a ser denunciado à Inquisição por posse de uma mandrágora e ler por uma bíblia luterana.

Mestre Nicolau começou por ser ‘imaginário’, ou seja, escultor de imagens de vulto. É nessa especialidade artística que ele se documenta em Santiago de Compostela e em Lisboa na fase inicial da sua obra. Em 1519, após o trabalho escultórico do portal principal do Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa, D. Manuel I concede-lhe o título de imaginário régio, estatuto artístico que nenhum outro escultor contemporâneo receberá.

Segue para Coimbra, onde deixa o notável púlpito da igreja de Santa Cruz, uma das grandes obras-primas da escultura ibérica. Seguidamente trabalha na região coimbrã em várias obras retabulares e tumulares. Em 1528, ao serviço de D. João III, vai a Saragoça, às pedreiras de Gelsa, para escolher o alabastro com que fará de 1529 a 1532 o notável retábulo da igreja da Pena, em Sintra. Nesse ano, seguindo os itinerários de Corte, vai para Évora, onde fica até 1542.

Na capital alentejana, Chanterene faz para o Convento do Paraíso o túmulo de D. Álvaro da Costa, camareiro-mor do rei e padroeiro do cenóbio. A expensas deste fidalgo faz ainda o chafariz do claustro e os três pilares para o refeitório conventual, esta uma obra maior da escultura renascentista ibérica. Seguem-se trabalhos de grande qualidade para os condes de Sortelha, do Prado e do Vimioso. Na tumulária, produz ainda os sepulcros de Francisco de Melo (1536-37) e do bispo D. Afonso de Portugal (1542), a sua derradeira obra eborense.

É, no entanto, na obra régia da Igreja da Graça onde o artista mais inova e se aproxima das experiências maneiristas. As janelas da capela-mor (1537) são o bom exemplo da sua qualidade técnica e inventiva plástica a partir dos modelos clássicos. De resto, a leitura atenta da arte italiana e dos seus principais artistas sente-se na decoração dos plintos das ditas janelas, onde a imagem de Galba se aproxima dos desenhos de Leonardo da Vinci.

Se Chanterene parece conhecer bem a arte italiana, é Miguel Ângelo que ele segue na espantosa decoração da fachada da igreja da Graça (1539-1541). Com efeito, os chamados ‘Meninos da Graça’, as quatro figuras de colossos da Antiguidade que decoram o fastígio, lembram muito a ‘terribilitá’ miguelangelesca.

Nicolau Chanterene ocupa ainda na corte de D. João III o importante cargo de arauto, que em 1551, já retirado da vida artística e às portas da morte, solicita ao rei que esse cargo heráldico seja transmitido a quem casar com sua filha. Forma pragmática de assegurar à filha os necessários meios de subsistência.

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Nicolau Chanterene, um insigne escultor do Renascimento ibérico. Grada 135. A fronteira
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Nicolau Chanterene é talvez o escultor do Renascimento ibérico melhor estudado. E percebe-se porquê do percurso artístico começado na Galiza (1511) e continuado em Portugal (1517-1551) resultou uma obra escultórica de invulgar qualidade estética e inovação artística, segundo os modelos do renascimento italiano.
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