Vasco Pereira Lusitano, pintor eborense na ‘Sevilla del Siglo de Oro’. Grada 106. A fronteira

Léelo en solo 6 minutos !!

Ao longo destes cinco anos de colaboração com a revista Grada temos vindo a sublinhar os fortes laços culturais que unem os dois países ibéricos. Laços antigos, irmanados numa interligação e interdependência extensível a todos os estratos da sociedade e a todos os domínios profissionais. A criação artística é talvez um dos domínios onde mais se evidencia esta forte relação, sobretudo na época das Descobertas marítimas, precisamente o século de ouro dos dois países. Expoente máximo deste apogeu, Lisboa e Sevilha constituem-se como as duas grandes urbes portuárias, também cidades de corte e pontos de passagem obrigatório do Velho ao Novo Mundo.

Não por acaso, Sevilha regista neste período a presença de uma vasta comunidade portuguesa ligada aos tratos ultramarinos (aí se destacando, por exemplo, ‘João de Évora, mestre de naus’), ao rendoso comércio de escravos, simplesmente aprendendo e trabalhando nas artes mecânicas. No que toca à pintura, a comunidade lusa seria então a terceira mais importante em número. De facto, vários são os pintores portugueses que se encontram em Sevilha ao longo do século XVI. Além dos documentados João Henriques, António de Coimbra, António Português, Aleixo Lopes e Nicolau Ribeiro, a partir de meados desse século foram vários os pintores e douradores aí estabelecidos: Francisco Pinto, António Gonçalves, Manuel Fonseca, Mateus e João Ribeiro, Baltasar Gomes Figueira (pai da conhecida Josefa de Óbidos) Jerónimo do Espírito Santo (que estudámos) e Vasco Pereira, a quem dedicamos este texto.

Sevilha era, pois, nesse século de ouro um importante centro de aprendizagem artística, onde chegavam os ecos da melhor escola italiana, assim atraindo às oficinas dos grandes mestres sevilhanos os jovens talentos portugueses. Assim foi com Vasco Pereira que em 1560 assinou um contrato de formação artística com o mestre pintor Luís de Vargas e logo nas décadas sequentes se tornou num dos melhores oficiais sevilhanos nas modalidades de imaginária de óleos e pintura a fresco.

Não vindo ao caso a análise da sua obra pictórica, de resto bem estudada por reputados historiadores dos dois países (Vitor Serrão e Juan Miguel Serrera Contreras), veja-se tão só a questão controversa da naturalidade do pintor luso-espanhol. Diz-se no contrato de 1560 (e verto-o à língua portuguesa) que Vasco Pereira era “português, filho de Sebastião Pereira, já defunto, e de Leonor de Herrera, sua mulher, vizinhos da cidade de Lisboa”. Ou seja, a família Pereira (como expressa o plural ‘vizinhos’) provinha de Lisboa, aí residindo. Diga-se desde já que ser ‘vizinho’ é para a terminologia tabeliónica espanhola o mesmo que ser procedente/morador de um determinado lugar. Temos, aliás, o exemplo do flamengo Olivier de Gand que indo em 1503 a Sevilha comprar azulejos aí foi identificado como ‘vizinho de Coimbra’. Assim era também para o período medieval português que dava à ‘vizindade’ prerrogativas de morada estabelecida, mas nunca de naturalidade, esta quantas vezes transportada pelo próprio apelido (lembremo-nos dos Resende de Évora). No século XVI, em plena afirmação do Renascimento, o local de nascimento era expresso pelos humanistas através da palavra ‘pátria’, de resto diverso do vernáculo ‘nação’, já no sentido moderna da palavra.

Era, pois, Vasco Pereira lusitano, vizinho de Lisboa, filho de pai português e mãe presuntivamente andaluza (de Herrera, povoação não muito longe de Sevilha). Acontece, porém, que numa pintura datada de 1576 o pintor assina um inconfundível “Vascvs Pereira Elborensis Lusitanvs”… Ou seja, e tal como muitos o reconhecem, Vasco Pereira, ‘eborense da Lusitânia’, revela aqui intencionalmente a sua verdadeira ‘pátria’, nisto seguindo o exemplo do seu ilustre conterrâneo e contemporâneo, André Lúcio de Resende (1500-1573) de que seria interessante aferir se na vasta biblioteca de Pereira alguma obra resendiana por lá constava… É certo que numa outra pintura anterior (1562) o pintor fez apor ao seu nome a expressão “Vrbe Lixbonense”, mas aqui, assim nos parece, apenas para vincular o seu local de proveniência, como a palavra ‘urbe’ parece sublinhar.

Partindo do pressuposto que é clara a ‘pátria’ de Vasco Pereira bem como o ano do seu nascimento (1535) pois ele diz em 1585 ser “maior de cinquenta anos”, um dado relevante que investigamos é o de seu pai ser Sebastião Pereira, ‘moço de estrebaria’ da rainha D. Catarina, homem muito estimado e gratificado pela rainha em 1530 e cuja assinatura é digna do melhor escrivão (ANTT, C.C., Parte I, mç. 164, nº 43). Ora, como a corte régia estadeou em Évora entre 1532 e 1537 nada mais natural admitir que Vasco Pereira tivesse nascido na capital alentejana. Na verdade, e se assim foi, até é possível admitir a hipótese de sua mãe integrar o séquito da rainha (ainda que ainda a não tenhamos conseguido documentar como ‘moradora’ da Casa Real) e em Évora ter casado com Sebastião Pereira, decerto antes de 1535. Quem sabe se foi esse ambiente cortesão aquele que permitiu ao jovem pintor eborense ter acesso directo a uma formação artística em Sevilha. Isso e o facto de sua mãe ser muito possivelmente andaluza. São pelo menos estas as pistas que continuamos a seguir…

…¿quieres saber más? Suscríbete por 30 euros al año

Otros artículos

SEXPE
La Junta de Extremadura convoca las ayudas del Plan de Empleo Social de Extremadura
Las localidades afectadas por las tormentas de julio dispondrán de fondos para contratar a trabajadores agrarios

CONSEJO DE LA JUVENTUD DE EXTREMADURA
‘Cuadernos violetas’ contra la discriminación hacia la mujer

FUNDECYT-PCTEX
La Junta de Extremadura organiza un foro sobre especialización inteligente, financiación e innovación en la empresa

ÁREA DE DESARROLLO Y TURISMO SOSTENIBLE DE LA DIPUTACIÓN DE CÁCERES
La Diputación de Cáceres aprueba la Estrategia de Desarrollo Urbano Sostenible e Integrado de Plasencia y su entorno

FUNDACIÓN ACADEMIA EUROPEA DE YUSTE
La Fundación organiza un curso sobre políticas culturales europeas eficaces para las instituciones y la ciudadanía
La Fundación y la Asamblea de Extremadura organizan una exposición sobre el papel de la interpretación durante los procesos de Núremberg

ÁREA DE DESARROLLO LOCAL DE LA DIPUTACIÓN DE BADAJOZ
El documental ‘En la Raya de Agua’ recorre los paisajes y localidades del entorno de Guadiana Internacional

ASAMBLEA DE EXTREMADURA
La Asamblea acoge el primer pleno escolar de España contra el ‘bullying’ por LGTBIfobia
La Mesa de la Asamblea se reúne en Guadalupe con motivo del Año Jubilar
La Asamblea conmemora el Día Internacional para la Erradicación de la Pobreza

PSICOLOGÍA
Amparo García. Del lagar al paladar
Carmen González. Un corazón que perdona

CLUB SENIOR
La despoblación rural de Extremadura no es irreversible

UNIVERSIDAD DE EXTREMADURA
La tesis del doctor por la Universidad de Extremadura Adrián Barroso recibe el premio de la Real Academia de Doctores de España de Ciencias Experimentales y Tecnológicas
La Universidad coordinará un proyecto transnacional para la detección inmediata de tritio en agua para consumo

FOTOEXTREMADURA
¿Conoces Extremadura?

TECNOLOGÍA
Juan Zamoro. La tostadora apocalíptica
Ramón Palacios. Seguridad y biometría

REDES SOCIALES
Abel Hernández. Haz que tu web le guste a Google: SEO On Page

MUSAS DE EXTREMADURA
El reino de las musas
Javier Feijóo. A mi soledá

CINE
José Antonio García Sagardoy. Cine antes de Navidad

ARTE
Lanzarte. ‘Arte Vertical’. Ruta Mancomunera de Jardines Verticales

FOTOGRAFÍA
Juan Manuel Antúnez Trejo. Botella

MODA
Patty Gruart. #BloggerTrip

VIAJES
Juan Antonio Narro. Un cambio de guardia con acento griego

LA FRONTERA
Rades. Goya: Los caprichos de Erizonte

HISTORIA
José Antonio Ramos. Ermita de San Jerónimo, de Casar de Cáceres

ARQUEOLOGÍA
Julio Esteban Ortega. Los dioses de nuestros antepasados: Bandue

TOROS
José María Sotomayor. Las corridas concurso de ganaderías en Las Ventas (3ª y última parte)

ENOLOGÍA
Carmen Tristancho. Francisco Teixidó Basurto

MOTOR
Mamen Vázquez. Tres días a tope de motor con el ‘Espíritu del Jarama’. Nos transportamos a tiempos pasados

PATROCINA UN DEPORTISTA
Don Benito e Iván Pajuelo, camino a Tokio 2020

ZONA EMPRESA
Cristian Lay. Cristian Lay, el padre Ángel y Ana Rosa Quintana lanzan una campaña solidaria por la sonrisa de las mujeres
Banca Pueyo. Pueyo Pensiones es la gestora de planes de pensiones más rentable durante el año 2016

CIUDADANOS
José Manuel Corbacho. El comercio electrónico
UCEX. Consultorio de consumo

ESTE MES TOCA
La Fundación Primera Fila invita a empresas e instituciones a celebrar su cena de Navidad de manera solidaria
Nando Juglar celebra sus 50 años de música

MESA Y MANTEL
José María Sánchez Sánchez. Director gerente de la Sociedad de Gestión Pública de Extremadura (Gpex)

…¿quieres saber más? Suscríbete por 30 euros al año