Deve-se a João Mendes de Vasconcelos (?-1541), fidalgo da Casa Real, embaixador do rei D. Manuel I na corte espanhola, entre os anos de 1505 e 1520, e herdeiro do morgado do Esporão a construção da única capela privada da Sé de Évora (1529-30) para panteão familiar, estrutura que marca o primeiro momento da arquitetura de matriz renascentista na capital alentejana, ainda que por via do ‘plateresco’ espanhol.
A 23 de julho de 1512, estando por embaixador em ‘Castela’, João Mendes de Vasconcelos escreve ao rei D. Manuel I, desde Burgos, a dar conta de vários assuntos pendentes, à cabeça dos quais “a provysão que el rey mandou dar sobre a igreja que se faz em valverde”.
Se dúvidas houvesse sobre qual igreja que então se edificava e em qual localidade espanhola, João Mendes de Vasconcelos esclarece de imediato: “que a va ver o corejedor de badalhouçe e lhe (e)screva o que se faz”, parecendo então ao diplomata “que sera bem que mande V(ossa) A(lteza) outra pessoa com o corregedor e que me tragão logo o que se faz com o parecer do corejedor” (ANTT, Corpo Cronológico, Parte I, mç. 11, n.º 115).
Vale a pena recordar aos menos familiarizados com a história medieval portuguesa que a grafia ‘badalhouce’ é a mais comum para designar Badajoz. Facto que deixa poucas dúvidas geográficas sobre qual a povoação nomeada no documento, precisamente Valverde de Barguillos, ou ‘Valverde junto a Badajoz’ com, singelamente, alguns documentos do século XVI nomeiam esta mesma localidade. E, como está bem de ver, a igreja que então se fazia (ou talvez se reformava) em julho de 1512 só podia ser a de ‘Nuestra Señora de Antigua’, de resto, culto mariano que o rei português muito estimava como prova a “lâmpada” de “grande preço” que deu à capela de ‘Nuestra Señora de la Antigua de Sevilla’, em 1519, obra de ourivesaria de mestre Gil Vicente (como já nesta revista demos a devida notícia).
Sem qualquer informação histórica sobre o monumento em apreço por via das fontes espanholas, resta-nos uma apreciação ‘à distância’, esperando que este tema ganhe doravante uma atenção maior por parte dos historiadores extremenhos, sobretudos os oliventinos, dada a proximidade cultural e geográfica.
De facto, seja pela proximidade ao território português, seja pela intervenção de D. Manuel (ou talvez por ambas as circunstâncias), é notória uma expressão ‘manuelina’, sobretudo ao nível da capela-mor da matriz de Valverde de Burguillos, onde sobressai a sua mole torreada, de planta quadrangular e coroada por merlões chanfrados típicos desses primeiros anos do século XVI português.
É, sem dúvida, um caso para melhor estudar, até pelas questões históricas e artísticas que levanta.