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José Cornide e o Alentejo (II). Grada 175. Francisco Bilou

José Cornide e o Alentejo (II). Grada 175. Francisco Bilou
Foto: Cedida
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Na sua viagem arqueológica pelo Alentejo, entre outubro e novembro de 1799, José Cornide visitou Sant’Ana do Campo, pequena paróquia do concelho de Arraiolos. Atraído pela fama do lugar, tornado conhecido da arqueologia romana portuguesa em meados desse século, aí encontrou Cornide as ruínas de um templo romano que a epigrafia consagrava ao deus indígena Carneus, sendo seus dedicantes os Calantani ou Calanticencis, população rural distribuída por um território equivalente ao atual concelho de Arraiolos. Além dos vestígios romanos que ainda hoje impressionam (como ilustra a imagem em anexo), o ilustre antiquarista espanhol não encontrou mais do que uma inscrição em dois pedaços de mármore, como escreve no seu diário: “(…) parte del cuerpo de la Iglesia, y la capilla mayor estan fabricados con piedras labradas de extraordinaria grandeza, tomadas con cal hasta el texado, y dicen los naturales que ha sido obra de Romanos, lo que pretenden probar con una piedra de marmol en que se ven las siguientes letras (…)”.

Segue-se a reprodução das duas epígrafes com a seguinte leitura: “en el 1º pedazo. AFCA // NANII // IERMES // LAVS. En el 2º… CARNERO // CALANTICE”.

Ainda que perdidas estas duas epígrafes, mesmo tendo em atenção o possível paradeiro que Túlio Espanca lhes propôs ao ‘inventariar’ a quinta da Sempre-Noiva, não oferece dúvida de que os imponentes vestígios romanos de Sant’Ana do Campo observados por José Cornide testemunham o espaço sagrado de um culto com expressiva representatividade regional. A dimensão estrutural do ‘templum’ e do ‘atrium’ combinado com a robustez e qualidade da fábrica é um claro sinal da importância cultual desta deidade indígena venerada pelos Calanticencis.

Mais importa saber que outros achados epigráficos de carácter funerário ajudam a circunscrever a zona de influência do culto pelo menos ao atual concelho de Arraiolos: em Santa Justa uma árula votiva consagrada a ‘Carneo Calanticenci’, conforme leitura de José d’Encarnação; na Herdade do Cortiçal um grafito num prato de barro com a inscrição ‘Calantani’; em Sant’Ana do Campo a palavra truncada “…NEO” (CARNEO?) incisa num fragmento de ‘dolium’ achado durante sondagens arqueológicas nas imediações da igreja.

Ainda que muito se tenha perdido do edificado romano ao longo do tempo, os elementos arqueológicos que perduram (à vista, ocultos e no subsolo) fazem deste monumento um caso único no país e muito raro na Europa. Conjuntamente com o templo romano de Évora, e seguindo-lhe de perto a orientação (facto a que se não tem dado a devida importância), pode o Alentejo regozijar-se com a presença destes dois excecionais testemunhos da Antiguidade Clássica, os quais José Cornide muito ajudou a divulgar junto da comunidade científica ibérica. As palavras e os desenhos que deixou de ambos os monumentos na sua passagem pelo Alentejo, são também um património que importa preservar e lembrar, sobretudo numa altura em que é anunciada Évora como cidade Capital Europeia da Cultura em 2027.

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