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Mestres pedreiros portugueses na Extremadura espanhola na segunda metade do século XVI. Grada 170. Francisco Bilou

Mestres pedreiros portugueses na Extremadura espanhola na segunda metade do século XVI. Grada 170. Francisco Bilou
Paroquial da Purificação, de Villalba de los Barros (Badajoz). Foto: Cedida
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A circulação de artistas entre Portugal e Espanha no século XVI, particularmente em particular de mestres pedreiros nas zonas raianas, é um facto bem documentado e já aqui o abordamos algumas vezes nesta revista.

No caso concreto da obra arquitetónica, logo em 1511, Pedro Galego, um mestre pedreiro de origem espanhola, se acha na matriz de Caminha a introduzir a primeira linguagem plateresca no norte de Portugal, já por esses anos praticada no país vizinho como expressão adotada do grutesco italiano.

Todavia, seriam principalmente os biscainhos (como se generalizou chamar-lhes em Portugal) os grandes agentes da atualização arquitetónica ‘ao romano’. De todos eles, João de Castilho, o mais destacado oficial de pedraria da primeira metade do século XVI português, será o grande responsável pela introdução da linguagem renascentista no Mosteiro dos Jerónimos de Belém (Lisboa), após 1517, ocupando-se no final da década seguinte da demorada ampliação do Convento de Cristo de Tomar. A ele se deve, segundo propõe o professor Rafael Moreira, quer a singular capela do Noviciado deste convento, quer a notável igreja arrabaldina de Nossa Senhora da Conceição, ambas as obras datáveis de 1547.

Mais a sul, mas agora em sentido inverso, destaque para o maestro cantero Pedro Gómez, português, que surge a trabalhar na região de Cáceres, sendo vecino desta cidade. Uma das suas mais conhecidas obras é a tribuna do coro da igreja de Santa Catarina de Monroy, levantada entre os anos de 1559 a 1562, como nos esclarece Florencio-Javier García Mogollón no artigo ‘Historia Arquitectónica de la Iglesia Parroquial de Santa Catalina de Monroy (Cáceres). La Tribuna Coral y el Maestro Pedro Gómez’, publicado em Norba-Arte, Cárceres, Universidad de Extremadura (Vol. 28-29, 2008-09, pp. 21-44).

Entretanto, no Reportorio de fuentes documentales para la historia de Badajoz [1543-1700], importante contributo documental dada à estampa em 2012 por Fernando Marcos Álvarez, em edição patrocinada pela Diputación de Badajoz, são vários os artistas portugueses que se documentam nos contratos notariais aí publicadoss. Além do conhecido marceneiro-imaginário natural de Portalegre, Gaspar Coelho, veja-se o caso de André Francisco, “maestro de cantero, vecino de Estremoz”, que se documenta em 1607, conjuntamente com o elvense Miguel Martins, na obra de construção da “puente del rio de Guadiana de esta ciudad de Badajoz”. Esta ponte, conhecida por puente de Palmas, foi reconstruída após 1595 e nela trabalharam sob a direção do arquiteto trasmiero Juan del Haro, além do citado André Francisco, outros mestres portugueses naturais de Elvas: Miguel Martins (o “mestre da obra água da Amoreira”, em 1603), Bartolomeu Rodrigues e Jorge Machado.

Precisamente este último contrata-se, em agosto de 1613, com “Alonso Martín Crespo, carretero, vecino de Badajoz” para lhe trazer “de una pedrera que está en la villa de Burguillos, al sitio que llamam El Monte del rey, para la villa de Vilallva 60 carretadas de piedras grandes, que tendrá cada piedra 50 arrobas poco más o menos”, posta à “a la puerta de la iglesia de la dicha villa de Villalva”. O portado ocidental da paroquial de Nuestra Señora de la Purificación de Villalba de los Barros (foto anexa), o qual conserva para maior precisão cronológica a data de 1614 inscrita no lintel, deve-se, pois, a este muito desconhecido mestre pedreiro português que trabalhou maioritariamente na Extremadura, vivendo em Badajoz e Mérida.

Entretanto, o já citado pedreiro André Francisco, “maestro de cantería vecino de la villa de Estremoz en el reyno de Portugal”, surge ainda entre 1613-1615 a fazer a capela e a escultura de vulto do Bispo de Coria, na igreja paroquial de San Nicolás, em Plasencia, obra de singular qualidade escultórica e que põe em evidência a importância das pedreiras de mármore do anticlinal de Estremoz.

Os breves exemplos aqui trazidos, de alguns mais que se poderiam recensear, provam a intensa permeabilidade artística da fronteira luso-espanhola, sobretudo após 1580 quando Portugal passou a estar sob o domínio filipino. Facto que importará melhor conhecer e estudar, até porque as obras deixadas de um lado e outro da fronteira, além de testemunho inequívoco dessa antiga relação cultural, permitem hoje pensar nas múltiplas possibilidades de valorização e promoção desse património comum, que mais não seja também como um ativo turístico no quadro regional.

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