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A viagem de Dona Catarina de Áustria a Coimbra e Tomar no outono de 1550. Grada 164. Francisco Bilou

A viagem de Dona Catarina de Áustria a Coimbra e Tomar no outono de 1550. Grada 164. Francisco Bilou
Foto: Cedida
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Estando a Corte em Almeirim desde 6 de dezembro de 1550, Pero Fernandes fechava, a 13 de janeiro de 1551, um longo rol de gastos de 249.335 mil réis que se haviam despendido por “mandados verbaes” de Dona Catarina no “caminho de Lixboa a Coimbra e de Coimbra ate esta vylla d’Almeirym”.

Esta tão avultada verba distribuída em 60 adições, sabemo-lo do pormenorizado rol, acabava de ser despendida pela Rainha em mercês feitas a seus “criados e a outras pessoas” ao longo de uma verdadeira aventura itinerária de cerca 330 km, começada em Lisboa, sábado, dia 18 de outubro, e terminada noutro sábado, dia 6 de dezembro.

Sem surpresa, a primeira mercê foi dada em Azambuja, após um dia completo de caminho de c. de 45 km, ao cozinheiro-mor, porteiro da cozinha, cozinheiros e pasteleiro, num total de 11.000 réis. Mais modesta (1.200 réis) aos foliões que animaram a receção da comitiva real no Cartaxo, ao dia seguinte.

A comitiva seguiu a 21 de outubro para Alcobaça, por Atalaia, onde recebeu a noticias “da saúde da Princesa sua filha”, demorando-se na abadia cisterciense até ao dia de Todos-os-Santos.

A 2 de novembro, já na vila da Batalha, Dona Catarina, volta a dar 1.200 réis aos foliões, desta vez de Alcobaça. Segue no dia seguinte para Leiria onde manda dar “as moças que lhe fezeram a dança” 6.000 réis de mercê.

Em Pombal, no dia 4 desse mês, gratifica Jorge Palha, seu escrivão, de duas compras indeterminadas e segue para Coimbra onde, 3 dias depois, dá de mercê a Brás Correia “ajudante das andas de hum caputim de panno arenoso” que custou 765 réis (5 deles de feitio) “tirado da costura”.

Permanecendo em Coimbra até 25 de novembro, onde quase todos os dias gratifica alguém da sua Casa, a 17 desse mês Dona Catarina deu 1.100 réis a António Lopes “que foi com humas cartas ao bispo de Portalegre”; e na véspera da partida dá a 800 réis ao estalajadeiro, Martim Cortes.

Já em Condeixa a 25 de novembro, dia de Santa Catarina de Alexandria, gratificou em 4.000 réis a Afonso Fernandes “correio d’El Rei”, para no dia seguinte dar 800 réis a João Ribeiro, moço de estrebaria d’El Rei, “que foj saber dos caminhos”.

Ainda em Condeixa, a 27 desse mês, mandou dar 1.600 réis a Pero Castelão “morador no dito lugar por hir a Soyre saber nouas dell Rey nosso Senhor”, e 400 réis a António Pires “por hir saber dos caminhos”, sintoma do mau estado do percurso.

É neste contexto, aliás, que a Rainha se obriga a gratificar em 12.800 réis a João Fernandes, Diogo Cabrito, Gaspar Penteado, Fernão de Álvares, Rodrigo Vaz, Afonso de Araújo, Diogo Bezerra, António Matela, João Peres, António Luís e Jorge Gonçalves, moços de estrebaria e a Brás Correia “ajudante das andas”.

De resto, antes de partir para Alvaiázere, a 28 de novembro, ainda distribui generosamente mercês pelos que lhe são mais próximos: ao moços, homens e porteiros da câmara, aos reposteiros e reposteiro do Príncipe e à sua lavadeira, Margarida Anes.

A 29 de novembro, já em Alvaiázere, beneficia o porteiro e moços da capela em 500 réis cada um, bem como vários reposteiros d’El Rei e moços do monte, num total de 12.000 réis.

A 30 de novembro, já estando na vila de Tomar para as celebrações de Santo André, gratifica Pero Rodrigues da Ponte, seu capelão. No mesmo dia “mandou V. A. dar a Pero Vaz e Antgnio Pires allmocreues que salvaram o seu cofre na Ribeira de Condexa oytocentos reis (a cada hum) que sam mil e seicentos réis”; e “aos guias que vierão de Condexa mostrando os caminhos mil e seicentos reis”; e “a dous criados de frey Antonio que foram com os machos das andas de quinhentos reis a cada hum”.

A crer na insistência e nos valores atribuídos, o caminho de Condeixa a Tomar foi difícil de percorrer, pois no dia 2 de dezembro deu-se aos “guias do caminho de Condexa mil e trezentos réis alem dos quatro cruzados que lhe levarão”.

A comitiva saiu do Convento de Tomar a 5 de dezembro; no dia seguinte já estava em Almeirim. A 7 fez sua Alteza mercê de 600 réis “a Pero Antão escravo de Jan’alvares que tem carreguo das andas” (ANTT, Corpo Cronológico, Parte II, mç. 242, doc. 43).

No computo desta viagem, importa notar a sua importância para a fundação de obras maiores da arquitetura portuguesa. É o caso do Colégio Real de São Paulo de Coimbra, obra precisamente lançada nesse ano e, sobretudo, o oratório dos noviços do Convento de Cristo de Tomar, cujo altar dedicado aos Reis Magos e cadeiral ficou a dever-se ao marceneiro francês Pedro de Loreto (ANTT, Convento de Cristo, Livro 101, fls. 41-45) e cujas colunas eram colocadas por João de Castilho em 1551. Todavia, esta passagem da família real portuguesa por Tomar no final de novembro e princípio de dezembro de 1550 pode estar ligada a decisão da construção da igreja de Nossa Senhora da Conceição, a obra-prima da arquitetura classicista em Portugal. O que confere a esta viagem uma importância de Estado, certamente uma das mais importantes que Dona Catarina fez durante o seu reinado.

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