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A Revolução de Abril, o 25 de Novembro e a evolução do desporto em Portugal. Da Ditadura à Democracia

A Revolução de Abril, o 25 de Novembro e a evolução do desporto em Portugal. Da Ditadura à Democracia
Foto: Instituto Português do Desporto e Juventude
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A história contemporânea de Portugal é marcada por dois eventos cruciais que moldaram a sua sociedade: o 25 de Abril de 1974, a chamada ‘Revolução dos Cravos’, que derrubou o regime ditatorial, e a Crise do 25 de Novembro de 1975, que consolidou o caminho democrático do país. Estes momentos não só transformaram o panorama político e social, mas também tiveram um impacto profundo no desporto em Portugal, desde a sua organização, financiamento bem como a democratização da prática desportiva.

O Desporto no Estado Novo era considerado um ‘Instrumento de Propaganda’. Antes do 25 de Abril de 1974, Portugal vivia sob uma ditadura, liderada por António de Oliveira Salazar. Este regime via o desporto como uma ferramenta de propaganda e de controle social. Inspirado por regimes fascistas da época, como os de Mussolini e Franco, o Estado utilizava o desporto para promover valores de disciplina, obediência e nacionalismo. O desporto era rigidamente centralizado e controlado pelo Estado, com pouca autonomia para as federações ou clubes.

O futebol era o principal foco, com o sucesso internacional do Benfica e do Sporting nas décadas de 1950 e 1960 usado para projetar uma imagem de força e unidade nacional. Outras modalidades, como atletismo e ginástica, recebiam atenção limitada, muitas vezes confinadas às atividades escolares ou militares.

Os Jogos Desportivos Escolares e as Mocidades Portuguesas eram exemplos claros de como o desporto estava subordinado à ideologia do regime. Essas atividades enfatizavam o cultivo de um corpo saudável e disciplinado, mas excluíam grande parte da população, especialmente as mulheres e as classes desfavorecidas, da prática desportiva livre e diversificada.

O 25 de Abril de 1974 foi um passo gigante para a libertação bem como para os primeiros passos para a democratização. A ‘Revolução dos Cravos’ trouxe consigo um novo horizonte para Portugal, incluindo uma renovação no panorama desportivo. O fim do regime ditatorial abriu caminho para a democratização da sociedade, com impactos também no desporto.

A descentralização administrativa permitiu que clubes, associações e federações ganhassem maior autonomia, enquanto o papel do Estado passou a ser mais regulador do que controlador. Entre as primeiras mudanças, destacaram-se os esforços para democratizar o acesso ao desporto. A prática desportiva começou a ser vista como um direito de todos, independentemente de género, classe social ou região.

A Constituição de 1976, aprovada após o processo revolucionário, reconheceu o desporto como um direito fundamental e uma dimensão essencial do desenvolvimento humano. No entanto, o período pós-revolucionário foi também marcado por instabilidade. A nacionalização de vários setores da economia e a polarização ideológica da sociedade afetaram o financiamento e a organização do desporto. Muitos clubes enfrentaram dificuldades financeiras, e a formação de jovens atletas ficou comprometida devido à falta de infraestruturas adequadas e ao desinvestimento temporário.

A Crise de 25 de Novembro de 1975 representou um momento crucial na história de Portugal, pois evitou que o país enveredasse por um caminho revolucionário radical, consolidando, e dando estabilidade a uma democracia parlamentar. Esta estabilidade política permitiu que o desporto se reorganizasse de forma mais consistente e estruturada, beneficiando de uma política desportiva mais clara e de um financiamento público mais estável.

A partir desse momento, o desporto começou a ganhar um papel mais significativo nas políticas públicas. A década de 1980 viu a profissionalização crescente do desporto em Portugal, com a implementação de programas de formação e o fortalecimento das federações desportivas. O futebol manteve-se como a modalidade mais popular e representativa, mas começaram a surgir iniciativas para diversificar a prática desportiva e apoiar modalidades menos conhecidas, como o andebol, voleibol, atletismo e basquetebol.

Em 1997 surge o Instituto do Desporto de Portugal (IDP), através do Decreto-Lei n.º 96/97, de 23 de abril. Ele sucedeu à Direção-Geral dos Desportos e desempenhou um papel importante na promoção e desenvolvimento do desporto em Portugal. Em 2012, o IDP foi extinto, sendo as suas competências integradas no Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ), criado pelo Decreto-Lei n.º 98/2011, de 21 de setembro.

Com o crescimento económico e a entrada na Comunidade Económica Europeia (CEE), Portugal investiu significativamente em infraestruturas desportivas. Este investimento culminou na organização de grandes eventos, como o Campeonato Europeu de Futebol em 2004 e a final da Liga dos Campeões em 2021. Estes eventos não só colocaram Portugal no mapa desportivo internacional, mas também estimularam o desenvolvimento de estádios modernos, complexos desportivos e centros de treino. Além disso, promoveram o turismo desportivo e criaram uma consciência coletiva sobre a importância do desporto como motor de desenvolvimento económico.

O desporto escolar tem sido uma prioridade desde a Revolução, com sucessivas reformas para garantir que todas as crianças têm acesso à prática desportiva. Este investimento contribuiu para a criação de uma cultura desportiva mais inclusiva e para o aumento da prática de modalidades menos tradicionais. O sucesso de atletas como Rosa Mota, Carlos Lopes, Nelson Évora e Cristiano Ronaldo reflete o impacto das políticas públicas no apoio ao desporto de alto rendimento. Centros de treino especializados, como o Centro de Alto Rendimento do Jamor, têm desempenhado um papel vital no desenvolvimento de talentos em diversas modalidades.

A evolução do desporto feminino em Portugal também tem sido significativa, especialmente nas últimas décadas. Embora tenha enfrentado barreiras culturais e estruturais, o crescimento do futebol feminino e os sucessos em modalidades como o atletismo e o judo mostram um progresso notável.

Apesar dos avanços, Portugal ainda enfrenta desafios no desporto. A desigualdade de acesso entre regiões, a falta de financiamento para modalidades menos populares e a necessidade de maior profissionalização em algumas áreas são questões que permanecem. Além disso, a pandemia de covid19 expôs fragilidades na sustentabilidade de muitos clubes e associações desportivas.

A titulo conclusivo podemos afirmar que o percurso do desporto em Portugal desde o 25 de Abril de 1974, e com a ‘ajuda’ do 25 de Novembro de 1975 é um reflexo das mudanças mais amplas na sociedade portuguesa. Da instrumentalização pelo regime ditatorial à democratização e à consolidação de uma política desportiva inclusiva e diversificada, o desporto tornou-se um pilar essencial da identidade nacional. E embora existam desafios a superar, os progressos alcançados mostram que o desporto, tal como a democracia, é um projeto em constante construção. As conquistas dos atletas portugueses no cenário internacional e a crescente adesão da população à prática desportiva são testemunhos do impacto positivo destas transformações históricas.

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