As doenças respiratórias, restritivas ou obstrutivas como asma, DPOC (bronquite crónica e enfisema), fibrosis pulmonar ou covid-persistente, têm um impacto significativo na vida de milhões de pessoas em todo o mundo. Estas condições, muitas vezes agravadas por fatores ambientais e estilos de vida sedentários, limitam a capacidade de realizar tarefas simples do quotidiano e, em casos mais graves, afetam a independência do indivíduo.
Paradoxalmente, a prática de exercício físico é muitas vezes vista com receio por quem vive com estas doenças, mas estudos comprovam que o desporto, quando adaptado (intensidades e volume), pode ser uma poderosa ferramenta no controlo e prevenção destas condições. Existe uma profunda ligação entre o desporto e a saúde respiratória, onde a prática de atividade física pode ser um verdadeiro elixir para ‘respirar melhor’.
O exercício físico tem um impacto direto e positivo no sistema respiratório. Durante a atividade física, o corpo exige mais oxigénio, obrigando os pulmões e o coração a trabalharem em maior sincronia. Este processo melhora:
- A capacidade pulmonar: aumenta o volume de ar inalado e exalado, fortalecendo os músculos responsáveis pela respiração
- A troca gasosa nos pulmões: melhora a eficiência com que o oxigénio é transferido para o sangue
- A resistência cardiorrespiratória: possibilita maior duração e intensidade nas atividades do dia a dia
Além disso, o exercício pode ajudar a eliminar secreções, melhorando a ventilação, pois aumenta a movimentação do ar pelas vias aéreas, melhora ou controla a doença, reduz a necessidade de medicação em alguns casos e reduz a sensação de falta de ar e melhora a qualidade de vida dos doentes.
Por exemplo, modalidades como natação (evitando las piscinas com cloro), o ciclismo e a corrida são conhecidas por promoverem uma maior expansão pulmonar, enquanto atividades como ioga ajudam a controlar a respiração, reduzindo o stress e melhorando a oxigenação, estas modalidades treinam diretamente a respiração controlada e profunda, fortalecendo os músculos intercostais e o diafragma.
A prática regular de exercício moderado também reduz os níveis de inflamação no corpo, uma das causas subjacentes de várias doenças respiratórias.
O desporto não é apenas terapêutico, mas também preventivo. Pessoas fisicamente ativas tendem a ter sistemas imunitários mais robustos, o que significa menos infeções respiratórias sazonais. O exercício físico ajuda o corpo a lidar melhor com fatores ambientais, promovendo uma resposta mais eficiente às partículas inaladas.
Apesar dos benefícios, há cuidados que devem ser considerados para garantir segurança na prática desportiva:
- Ambiente: Locais poluídos ou com temperaturas extremas podem desencadear crises respiratórias. Preferir ambientes mais controlados, pode ser ideal
- Moderação: Exercícios intensos e sem supervisão podem causar hiperventilação ou stress excessivo nos pulmões. O ideal é consultar um profissional de saúde para personalizar o treino
- Aquecimento e arrefecimento: São essenciais para evitar o choque respiratório e permitir uma adaptação gradual do corpo ao esforço
As pessoas com problemas respiratórios, é recomendável manterem-se ativas diariamente e seguirem um plano de treino que inclua exercício aeróbico de intensidade moderada e exercícios de força para os principais grupos musculares, tanto dos braços como das pernas, sendo indicado o treino de força pelo menos duas vezes por semana.
Também é possível realizar treino específico dos músculos respiratórios. Pode-se praticar uma grande variedade de exercícios e desportos, como natação, corrida, ciclismo, caminhada, pilates, yoga, entre outros, evitando atividades que provoquem grande fadiga ou sensação intensa de falta de ar.
As pessoas que utilizam oxigénio devem igualmente praticar exercício físico para melhorar a sua condição física e qualidade de vida, sendo recomendável que o treino seja orientado por um profissional de saúde, como um fisioterapeuta ou um fisiologista.
O desporto é um aliado valioso no controlo das doenças respiratórias e na promoção da saúde pulmonar. Além de melhorar a qualidade de vida de quem vive com estas condições, também ajuda a prevenir problemas respiratórios em populações saudáveis. A mensagem é clara: ao cuidar do corpo através do exercício físico, também cuidamos da respiração, o que, no fundo, é cuidar da vida.
José Alberto Parraça & María Dolores Apolo