Duzentas edições. Duzentas publicações que atravessaram meses, anos, crises, mudanças e evoluções. Duzentas oportunidades para pensar, para refletir, para provocar. Ao longo deste caminho, a revista Grada consolidou-se como muito mais do que uma revista. Tornou-se uma presença. Um sinal de continuidade e compromisso com a informação, com a região, com as pessoas. E nesta edição tão especial, não posso deixar de escrever sobre o que mais me move; A atividade física como pilar da saúde, como expressão da vida e como instrumento de transformação pessoal e coletiva.
Poderia enveredar por números e estatísticas, pois há muitos que sustentam o que se escreve. Poderia citar autores, estudos de referência, diretrizes da Organização Mundial de Saúde (OMS). Mas o que realmente pretendo hoje nesta edição tão espacial é sobretudo dar uma nota mais íntima, mais sensível, mais próxima. Porque falar de movimento é falar da própria condição humana. É falar da forma como habitamos o mundo e habituamos ao Mundo. Somos seres de movimento. Desde o ventre materno, onde já esticamos pernas e braços, até aos gestos mais simples do quotidiano, como subir um degrau ou virar a cabeça para ouvir melhor, o nosso corpo está em constante ação. E essa ação não é só física. É emocional, é cognitiva, é social. Quem se mexe, sente. E quem sente, vive de forma diferenciada, eventualmente mais plena.
Na verdade, podemos estabelecer um paralelismo curioso entre estas 200 edições da revista Grada e a prática regular de atividade física. Ambas exigem constância, dedicação, compromisso. Não se chega ao número 200 por acaso. Chega-se com persistência, com resiliência. Com vontade de continuar, mesmo nos dias em que apetece menos. Com paixão por aquilo que se faz. É exatamente isso que a atividade física nos ensina: que os grandes resultados não vêm do esforço pontual, mas da repetição consistente de gestos simples. Que não é preciso correr uma maratona para estar em forma, basta andar todos os dias. Que a saúde não se alcança de uma só vez, mas constrói-se, passo a passo, treino a treino. Na prática, mexer o corpo é, provavelmente, a intervenção mais barata, mais acessível e com mais benefícios transversais na promoção da saúde e do bem-estar. A evidência científica mostra-nos, de forma clara, que a atividade física regular reduz drasticamente o risco de doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, certos tipos de cancro, depressão, demência, osteoporose, entre muitas outras condições. Para além disso, melhora a qualidade do sono, aumenta a capacidade de concentração, reduz os níveis de ansiedade e promove uma autoestima mais robusta.
E, no entanto, nunca foi tão difícil mantermo-nos ativos. O mundo digital, o sedentarismo associado ao trabalho, a crescente dependência de automóveis, a urbanização sem espaços verdes, etc. tudo isto contribui para uma sociedade cada vez mais parada.
Quando penso no número 200, penso numa espécie de homenagem. Aos que todos os dias escolhem mexer-se, mesmo quando não é fácil. Aos que, apesar da dor, da idade, das limitações, mantêm o corpo ativo. Aos que transformam a sua realidade (e muitas vezes a dos outros) através do desporto, da dança, da caminhada, da natação, da ginástica, da pedalada, da brincadeira com os filhos… 200 pode parecer só um número, mas pode também ser um símbolo. E é disso que gosto mais: dos símbolos que nos fazem parar e pensar. E se pensássemos que 200 é o número de minutos mínimos de atividade física moderada que a OMS recomenda por semana para adultos? Isso dá menos de 30 minutos por dia. Um passeio ao fim da tarde. Uma ida e volta de bicicleta ao trabalho. Um jogo de futebol com amigos. Uma aula de grupo. Uma sessão de alongamentos ao som de música tranquila. Há tantas formas de chegar aos 200. E se pensássemos em 200 como o número de oportunidades por semana para escolhermos subir escadas em vez de usar o elevador? Ou de estacionar a 200 metros do destino? E se 200 fosse o número de batimentos cardíacos a mais que damos num treino mais intenso? Ou o número de sorrisos que partilhamos numa manhã de atividade ao ar livre? Ou o número de vezes que o nosso corpo nos agradece, silenciosamente, por termos decidido cuidar dele?
Por tudo isto, nesta edição 200, lanço um convite. Um apelo, até. Que cada leitor da revista Grada (jovem ou menos jovem, ativo ou inativo, atleta ou curioso), encontre a sua forma de se mexer. Que descubra o prazer do movimento. Que encontre no corpo um aliado. Que transforme os pequenos gestos em grandes mudanças. Porque não é preciso esperar por segunda-feira, pelo verão, ou pelo ano novo. E deixo um desejo: que tal como a revista Grada, que hoje celebra a sua vitalidade com 200 edições, também nós possamos celebrar os nossos marcos pessoais com: 200 caminhadas, 200 treinos, 200 minutos de dança com os filhos e/ou netos, 200 manhãs acordadas com energia, 200 dias sem dores, 200 sorrisos depois de mexer o corpo.