Logo revista Grada
Buscar

‘Jornada d’el Rei e Príncipe a Sintra’, a 29 de julho de 1646. Grada 173. Francisco Bilou

‘Jornada d’el Rei e Príncipe a Sintra’, a 29 de julho de 1646. Grada 173. Francisco Bilou
Foto: Cedida
Léeme en 4 minutos

Como já aqui diversas vezes referimos, a Biblioteca Nacional de España guarda um importante acervo documental sobre a identidade histórica portuguesa. Por isso não é de mais trazer uma outra notícia colhida nas Relações manuscritas de Portugal desde o ano de 1643 até 1646, neste caso sobre os primeiros anos do reinado de D. João IV, o rei Restaurador, que depois do domínio filipino (1580-1640) colocou na regência portuguesa a dinastia dos Bragança (1640-1910).

O texto que aqui se publica, creio que pela primeira vez, mostra como D. João IV, estando em Lisboa, se deslocou a Sintra, hábito antigo dos reis portugueses, particularmente no verão. E como também era habitual, a visita a Sintra tinha paragens obrigatórias aos pontos religiosos mais notáveis e às ocorrências geológicas que a tradição povoara de lendas e mitos. Está neste caso a Pedra de Alvidrar. Trata-se de uma enorme laje de pedra, quase em posição vertical, entre as praias da Adaga e da Ursa. A sua singularidade geológica, a que se junta o enorme desafio da escalada daquela superfície plana e muito inclinada em direção ao mar, sempre constituiu uma curiosidade da zona costeira de Sintra que, recorde-se, constitui o extremo mais ocidental da Europa. Donde, também o rei Restaurador se mostrar interessado em ver, com os seus próprios olhos, “couza bem notauel sendo tão medonha uista”, nesta sua jornada a Sintra, ocorrida a 29 de julho de 1646. Eis a (feliz) crónica desse dia:

“Partimos de Alcantara Domingo pela menhã ja dia claro depois de Sua Megestade ouuir missa no seu oratorio, e a maior parte dos que o acompanhavamos: iamos os seus criados que costumamos segui lo e conuidados os Condes de Miranda e Calheta, Antonio Correa senhor de Bellas, João Nunes da Cunha, Manoel de Saldanha e Dom Diogo de Lima. A poucos paços de saido começou a chouer meudo e muito, e chegamos a Barquerena bastantissimamente molhados. Ali vimos a caza de armas, e os malhos, e as mais officinas della. Passou el Rey auante com animo de vir jantar à Pena, mas indo uer o Conuento de Pena Longa lhe pareceo tão fermozo, e era ja tão tarde que se ficou alli, e comeo na celebrada fonte da Pena à uista de todo o pouo que quis entrar. Nos o fizemos depois todos no refeitorio, e com pouco repouzo depois de meza tornamos a marchar para a Pena onde chegariamos as duas horas com bastante sol. Vio el Rey a caza breuissimamente (fl. 73) e no refeitorio hauia doces e flores e logo foi tudo saqueado. Dalli fomos para Cintra aonde chegariamos as quatro com as folias e festas ordinarias da terra e muito pouo e el Rey foi direito aos Paços (que) estavão bem barridos, e alguma couza anseamdos (sic, asseados), e principalmente a caza de armas e que se lhe ponhão titulos de letra moderna porque muito mal podião ler a antiga. A tarde se gastou nisto, e em despachados huns correos que uierão, porque não fosse tudo folgar, aos criados del Rey nos alojarão nos Paços, e a mim e ao almotace mor nos derão o quarto do Cardeal que esta muito bem tratado. Ao outro dia pola manhã depois de ouuir missa fomos aos capuchinhos sem saber nenhum de nós o que se hauia de fazer dahi por diante. Vista a caza foi el Rey uer a quinta de Dom Manoel de Castro e lhe pareceo tão fermoza que se ficou alli a jantar debaxo de humas azinheiras das quaes se não dezapegou mais houue alli muita festa, e depois de comer se despedio toda a carruagem para Alcantara com tenção de uirmos alli a dormir, porem à tarde a requerimento do Principe se assentou que ficassemos a dormir na mesma quinta, e que fossemos a tarde uer a pedra de Aluidrar, e a mi me pereceo couza bem notauel sendo tão medonha uista a facilidade com que os naturaes sobem e decem por ella, vimos o fogo, e tornamos pela quinta de Antonio de Mello de Castro que tras muitos ueados onde el Rey quis matar hum mas não pode, felo porem o Conde dos Arcos (que tambem foi conuidado e esqueceome), deixandose ficar detras e o mandou depois á quinta de Dom Manoel donde el Rey foi a dormir sem cea nem cama mais que o que se pode buscar emprestado por huns uezinhos, mas nada faltou que a prezença do Rey a tudo abrange. A terça feira pela menhã uiemos jantar a Bellas ja com sol. Alli houue muita festa com muitas fontes, e folgamos tanto todos com a agoa que uiemos muito molhados, por trauesura do Princepe, para caza onde chegamos com pouco dia. Á quarta feira uiemos dormir a esta caza. Esta jornada fes el Rey á instancia do Principe que desejaua muito uer estes lugares, foi a cauallo muito fermoso rocim de campo grande de grande andadura, e sempre diante de todos (fl.73v) incansavel e sofredor da chuua, pó, e mais caminhos com muita alegria”.

Biblioteca Nacional de España (Biblioteca Digital Hispánica). ‘Relações manuscritas de Portugal desde o ano de 1643 até 1646’. MSS/8187 fls. 72v – 73v. Disponível à leitura digital

ENTRADAS RELACIONADAS

#15AñosConectando El jueves 13 de junio de 2024 se entregará la décimo quinta edición de los Premios Grada, con su...
El alcalde de Mérida, Antonio Rodríguez Osuna, y el presidente de la Unión de cooperativas de trabajo asociado de Extremadura...
En torno a 200 mujeres ejecutivas y directivas se han implicado en el proyecto WITH en Extremadura con el objetivo...
La Confederación Regional Empresarial Extremeña (Creex) y el Ministerio de Defensa han suscrito un acuerdo con el objetivo de promover...
La provincia de Badajoz se incorpora a la segunda edición de Ineco RuralTIC, el programa de digitalización del mundo rural...
Caja Rural de Extremadura ha suscrito un convenio de colaboración con la Asociación nacional de criadores de cerdo ibérico (Aeceriber)...

LO MÁS LEÍDO