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O túmulo de D. Jorge de Melo em Portalegre. Grada 150. Francisco Bilou

O túmulo de D. Jorge de Melo em Portalegre. Grada 150. Francisco Bilou
Foto: Cedida
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Nascido em Évora no último terço do século XV, Simão de Melo, filho de Garcia de Melo, alcaide-mor de Serpa, e de D. Filipa Pereira da Silva, foi uma personalidade singular, tanto na conduta da sua vida como na preparação da sua morte.

Destinado como filho segundo à carreira eclesiástica, cedo se acolheu em Roma sob a proteção de D. Jorge da Costa, o célebre Cardeal de Alpedrinha, tomando para si o nome próprio do seu protetor como D. Jorge de Melo.

Nessa qualidade e por influência direta do seu protetor foi nomeado bispo de Frascati, abade de Pombeiro e comendatário de Alcobaça (1504).

Já em Portugal, integrado na corte manuelina como esmoler-mor, e depois de um curto noviciado no mosteiro de Alcobaça onde tomou o hábito de abade regular, ficou à frente desta rendosa abadia cisterciense por um espaço de 14 anos, de que lhe adveio generosa fortuna e pública má-fama.

Desapossado da comenda de Alcobaça a favor do Infante D. Afonso, em 1519, D. Jorge de Melo passou ao governo da diocese da Guarda, múnus que nunca chegou a assumir de bom grado, preferindo ocupar-se da edificação do mosteiro de São Bernardo de Portalegre.

Dizem as crónicas que a verdadeira razão terá sido a opção tomada pelo prelado, preferindo dedicar-se a uma vida mais secular do que religiosa, na companhia de D. Helena Mesquita, sua amante e mãe de seus três filhos.

“Muito desobediente às coisas de Roma” no plano espiritual, mas nada desatento às novidades do renascimento italiano, D. Jorge de Melo deu expressão arquitetónica ao novel mosteiro cisterciense onde integrou a sua própria casa, aí vivendo faustosamente e, presume-se, em comunhão carnal com a sua concubina.

Malgrado a excomunhão imposta pela Santa Sé, o prelado gozou ainda assim da proteção régia e da própria Ordem de Cister que lhe permitiu filiar diretamente em Claraval o mosteiro de Portalegre.

Das muitas obras empreendidas entre 1533 a 1548, ano da sua morte, de que felizmente se conserva boa parte do edificado e respetivos equipamentos artísticos, muitos dos quais da responsabilidade do pedreiro-escultor de Estremoz, Pero Gomes, destaque para o grandioso túmulo do patrono.

Este monumento, edificado entre os anos de 1540-1542 por Pero Gomes como hoje se sabe, é composto por um corpo central, assente numa base onde figura o epitáfio numa cartela sustida por dois putti e sobre a qual se encontra o sarcófago com o jacente em vestes prelatícias, e um portal de arco pleno com a figuração de S. Joaquim e Santa Ana às portas do Paraíso; e dois os corpos colaterais, de bases decoradas de grutescos e colunelos de fantasia a enquadrar as figuras de S. Bento e S. Bernardo; o remate destes três corpos é composto por uma arquitrave ‘ao romano’, em cujo acrotério se representam atlantes, e uma edícula central consagrada a Nossa Senhora da Glória, em cujo vértice se encontra a representação brasonada do instituidor.

Este túmulo, o maior de quantos o Renascimento deixou em Portugal, foi visitado pelo rei Filipe II (III de Espanha) que, rendido ao fausto do monumento, mas decerto conhecendo o passado do seu comitente, terá expressado este curioso comentário: “uma grande gaiola para um pequeno pássaro!”.

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