De quatro em quatro anos temos uma questão recorrente: porque tão poucas medalhas nos Jogos Olímpicos? O que fazemos de diferente (para pior), comparativamente a países equiparáveis, mas com muito melhores resultados: Holanda, Chéquia, Hungria?
Uma questão de suma importância é na base da pirâmide desportiva: extrema carência de infraestruturas para praticantes antes dos 10 anos de idade (escola básica), melhorando muito significativamente depois dessas idades. Ora se sabemos que questões de suma importância como o desenvolvimento oculomotor é feito essencialmente neste período, estamos a criar um problema de base para desportos que exigem esta competência. Para criarmos estas estruturas, elas têm de ser previstas no orçamento respetivo, o que quer dizer que temos de ter uma cultura desportiva generalizada que exija aos políticos esta decisão e, obviamente, pagar o preço.
Outro aspeto muito importante a considerar é otimizar as sinergias entre clubes e estruturas desportivas locais, pois a formação desportiva dos técnicos nos clubes é mais avançada e permitirá rentabilizar equipamentos e aumentar significativamente a oferta. A manutenção das infraestruturas existentes muitas vezes não é prioritária, resultando em equipamentos obsoletos e instalações que não atendem às necessidades dos atletas.
A integração deficiente entre educação e desporto é outro problema. As escolas em Portugal ainda lutam para oferecer uma integração eficaz entre os compromissos académicos e desportivos. No entanto, com a introdução das UAARE, os atletas com acesso a este protocolo, que depende da aprovação do diretor técnico regional de cada modalidade, têm visto este problema ser muito bem acompanhado.
O desporto muitas vezes não é suficientemente valorizado como parte integrante da educação, o que reduz o incentivo para que os jovens se dediquem a carreiras desportivas, não só do atleta como também do treinador, pois a capacitação e o apoio aos treinadores também apresentam desafios. Embora existam programas de formação para treinadores, a qualidade e a acessibilidade destas formações variam. Muitos treinadores, especialmente em clubes menores, não têm acesso a formação atualizada ou recursos para se aperfeiçoarem continuamente. Além disso, a profissão de treinador, em muitos casos, não é suficientemente valorizada em termos de remuneração e reconhecimento, o que pode desmotivar profissionais talentosos a permanecerem na carreira ou a procurarem constante atualização.
O apoio limitado aos atletas é outro ponto crítico. Embora existam programas que oferecem suporte médico, psicológico e nutricional, estes não são acessíveis de forma uniforme para todos os atletas. Muitos atletas não têm acesso a um apoio multidisciplinar adequado. Além disso, muitos enfrentam dificuldades ao transitar da vida desportiva para outras carreiras, devido à falta de programas de educação e orientação focados na preparação para o pós-carreira.
A cultura desportiva limitada em Portugal também contribui para os desafios no desenvolvimento de atletas de alto rendimento. O futebol, apesar de ser uma paixão nacional, muitas vezes domina os recursos e a atenção, em detrimento de outras modalidades. Isto limita o desenvolvimento de talentos em desportos menos populares, mas com potencial olímpico. A participação em desportos amadores também é relativamente baixa, o que prejudica o desenvolvimento de uma cultura desportiva de base robusta. Além disso, a gestão e a coordenação ineficientes entre as várias entidades responsáveis pelo desenvolvimento desportivo, como federações, clubes, escolas e governos, parecem ser um problema. Esta falta de coordenação leva a esforços duplicados ou mal direcionados. A burocracia e a falta de flexibilidade nas políticas desportivas também dificultam a implementação de programas necessários e a adaptação às necessidades emergentes dos atletas e treinadores.
Por fim, as dificuldades económicas e sociais enfrentadas por muitos jovens talentosos em Portugal representam uma barreira significativa. Custos associados ao treino, equipamentos e deslocações podem ser proibitivos para famílias com baixos rendimentos, e o apoio financeiro do setor privado ainda é limitado, reduzindo as oportunidades de financiamento para atletas e clubes que buscam competir em alto nível.
Os desafios enfrentados por Portugal na implementação de políticas desportivas eficazes são múltiplos e interligados. Para melhorar o desempenho nos Jogos Olímpicos e em outras competições internacionais, é necessário um compromisso mais forte, adequado e coordenado, que inclua maior investimento em programas de base, melhor integração entre educação e desporto, aprimoramento das infraestruturas e maior apoio aos atletas e treinadores.
Apenas através de uma abordagem holística e sustentada, Portugal poderá superar estes obstáculos e realizar plenamente o seu potencial desportivo. Em suma é preciso mais vontade politica e maior investimento. Que custo isto terá? Quanto estamos dispostos a exigir e a pagar?
José Parraça & Jorge Félix