Buscar

Restauro da ponte da Ajuda, em 1607, segundo a traça de Pero Vaz Pereira, arquiteto do Duque de Bragança. Grada 152. Francisco Bilou

Restauro da ponte da Ajuda, em 1607, segundo a traça de Pero Vaz Pereira, arquiteto do Duque de Bragança. Grada 152. Francisco Bilou
Foto: Cedida
Léeme en 3 minutos

Querendo aqui homenagear Luís Limpo fazendo jus ao seu belo livro ‘Ajuda. Último ponte-fortaleza de Europa’ (2012), recupero uma pouco conhecida nota documental sobre o restauro da velha ponte do Guadiana, projeto de origem manuelina que se deve ao mestre pedreiro de Évora Martim Lourenço.

No referido livro, Luís Limpo deu-nos a conhecer a ruína da ponte oliventina na sequência das cheias do Guadiana no inverno de 1594-95, a que se sucedeu outra não menos calamitosa invernia na noite de 20 para 21 de dezembro de 1603. Citando achegas documentais de Matos Sequeira, Vitorino de Almada e Ledesma Abrantes, sabe-se que a corte filipina, desde Madrid, fez de imediato avançar recursos técnicos para se inteirar dos prejuízos e avaliar os custos da reedificação. Como era hábito, tais custos foram substancialmente pagos na forma de ‘fintas’, aplicadas aos povos circunvizinhos (Elvas e Olivença), bem como a quem interessava, à distância, a operacionalidade da ponte, as comarcas de Évora, Beja, Portalegre, Tomar e Santarém. Também como era comum, a obra arrastou-se no tempo à medida da disponibilidade financeira; ainda em 1613 os trabalhos continuavam.

A esta informação de Luís Limpo junta-se a preciosa informação que Patrícia Monteiro recenseou no cartório de Elvas no âmbito do seu doutoramento, ‘A pintura mural no Norte Alentejo (séculos XVI a XVIII): núcleos temáticos da serra de S. Mamede’ (2013), dando a conhecer três contratos notariais, lavrados em junho de 1607, pelos quais se intui a urgência na conclusão da obra nesse verão.

Deste modo, sabemos que pelo menos três mestres pedreiros estavam envolvidos na obra, feita, também como era hábito, em subempreitadas: Diogo Martins, referido como “mestre das obras de pedreyro morador na villa de arayolos”; Belchior Lopes; e Diogo Rodrigues, o “mestre da ponte de Olivença”. Este último tinha por obrigação dar a obra concluída até ao final de agosto desse ano, “conforme os apontamentos e traça de Pero Vaz (Pereira), arquiteto do duque de Bragança” (Monteiro, 2013, Vol. II). Este Diogo Rodrigues deve ser o mesmo que Miguel Soromenho apurou nas obras filipinas do Paço da Ribeira, em Lisboa, no ano de 1582. Já o pedreiro Diogo Martins não deve ser o homónimo que, em 1594 se encarrega da reforma da igreja de São Manços (Évora), segundo a traça de Pero Vaz Pereira, dado que Vitor Serrão encontrou o seu registo de óbito (1597) no fundo da Misericórdia de Évora. O facto de ser natural de Arraiolos é ainda razão para se considerar tratar-se de um desconhecido mestre que vale bem a pena seguir nas obras desta bela vila alentejana.

Quem não precisa de mais apresentação é o portalegrense Pero Vaz Pereira, escultor-arquiteto de formação italiana. Ao serviço da Casa Ducal de Bragança desde 1604 deu continuidade às obras palatinas de Vila Viçosa, segundo a traça de Nicolau de Frias, como apurou há muito Vitor Serrão. Ligado às obras da Sé de Elvas desde 1602 e à finalização da demorada obra do Aqueduto da Amoreira, não é estranho, pois, que surja em 1607 como tracista responsável pela reconstrução da Ponte da Ajuda, sinal do seu estatuto técnico-artístico e exemplo mais da versatilidade técnica dos nossos melhores arquitetos à entrada da Época Moderna.

ENTRADAS RELACIONADAS

Anuncia Maján Díaz. Directora de la revista Grada Me gusta la música, y me gusta en este caso parafrasear al...
María Guardiola Martín. Presidenta de la Junta de Extremadura Publicación tras publicación, Grada se ha convertido en mucho más que...
Blanca Martín Delgado. Presidenta de la Asamblea de Extremadura Hay cifras cuyo valor simbólico superan la mera notación del dato....
Miguel Ángel Gallardo Miranda. Presidente de la Diputación de Badajoz Cuando una publicación alcanza los 200 números es porque ha...
Miguel Ángel Morales Sánchez. Presidente de la Diputación de Cáceres El 18 se nos presenta como mayoría de edad, pero...
Manuel J. González Andrade. Presidente de la Federación de Municipios y Provincias de Extremadura Dieciocho años es sinónimo de mayoría...

LO MÁS LEÍDO