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O ‘vestido’ de Rui de Sousa Pereira feito por um alfaiate de Badajoz, em 1602. Grada 146. Francisco Bilou

O ‘vestido’ de Rui de Sousa Pereira feito por um alfaiate de Badajoz, em 1602. Grada 146. Francisco Bilou
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“A los 28 de dicho mês (julho de 1603) a las siete de la tarde salieron del palaçio (de Vila Viçosa) por la huerta nueva el senhor don Duarte y el señor don Phelipe, armados de armas blancas com calzas imperiales y tononetes de tela, en dos muy buenos caballos com sillas de borrones. La del señor don Duarte verde, y la de su hermano encarnada, y gravadas entrambas de oro. Llevaban delante de sí três moços fidalgos a cavallo, com dos celadas en las manos cubiertas de muy levantados penachos de plumas y haristas de colores, y com un cartel de desafio, dos porteiros de mazas, dos reyes de armas, un faraute, tres tombetas vastardas y cuatro de las ordinarias, chirimías y atavales, todos a caballo, y sessenta cavalleros vestidos de gala en sus cavallos enjaeçados. Y en esta forma arrancaron haçia el Roçío de san Sebastián y otras rúas, las mejores de Villaviçiossa, hasta llegar al terrero”.

É deste modo que um cronista espanhol recorda o luxo e a galantaria das “fiestas que ubo en el casamento del excelentíssimo señor duque de berganza com la excelentíssima señora doña Ana de Velasco”, em 1603.1

Sabemos agora que a cuidada preparação para tão grandioso acontecimento também se estendeu ao guarda-roupa dos convidados, a requerer naturalmente especiais cuidados na sua confeção, seguindo a moda e a etiqueta da época. Rui de Sousa Pereira, fidalgo da casa do Duque D. Teodósio II, seu copeiro-mor e homem de confiança na gestão da Casa, fez lavrar em suas casas de morada uma escritura com o prestigiado alfaiate de Badajoz, Manuel Fernandes.

Da informação colhida na escritura de “contrato e obrigações” sublinhe-se o detalhe dos termos contratuais, a descrição dos tecidos a usar, a obra de costura a fazer, os valores envolvidos e as clausulas de fiança que o caso exigia. Por outro lado, é de notar que o ‘vestido’ (designação, à época, daquilo a que hoje chamamos ‘fato’) deveria estar pronto em janeiro de 1603.

Note-se que o ‘vestido’ de cetim verde, composto por calças, roupeta (casaca curta), gibão e ferragoulo (gabão de mangas curtas e capuz), foi feito pelo modelo do de Francisco de Lucena, certamente fidalgo que ditava a melhor moda naqueles anos iniciais do século XVII. Todavia, não sabemos em que ocasião particular Rui de Sousa Pereira usou este seu vestido, se na entrega da Duquesa na ribeira do Caia, se na receção nos paços ducais de Vila Viçosa. Sabemos, isso sim, que a 6 de julho, no terreiro do paço ducal, às nove horas da noite, ante o Duque e a Duquesa, que Rui de Sousa Pereira participou no faustoso torneio organizado por ocasião das festas nupciais, trajando na ocasião de forma distinta.

 

1 Biblioteca Nacional de Madrid, ms. 3826, fls. 1-20v, publicado em: Ferrer Valls, Teresa. ‘Nobleza y Espectáculo Teatral (1535-1622)’: Estudio y documentos. UNED, Universidade de Sevilla, Universitat de València, 1993, pp. 225-230.

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