Logo revista Grada
Buscar

João Sanches Badajoz, célebre ‘músico de câmara’ da corte portuguesa (c. 1511-1548)

João Sanches Badajoz, célebre ‘músico de câmara’ da corte portuguesa (c. 1511-1548)
Foto: Cedida
Léeme en 4 minutos

Seja na documentação da chancelaria régia, seja nas referências elogiosas dos contemporâneos, como Gil Vicente e Garcia de Resende, João Sanches Badajoz, vulgarmente conhecido apenas por ‘Badajoz’, é um dos mais destacados músicos de câmara dos reinados de D. Manuel I e de D. João III.

Em 1896, Carolina Michaëlis de Vasconcelos (Berlim, 1851 – Porto, 1925) já escrevia sobre esta figura, aliás em análise muito circunstanciada sobre Garci Sanchez Badajoz, um “nobre cavaleiro e famoso trovador” cuja poesia foi recolhida “no ‘Cancioneiro General’ e parte no ‘Cancioneiro del siglo XV’” (Vasconcelos, Carolina Michaëlis de, ‘Garci-Sanchez de Badajoz’, ‘Revista crítica de Historia y Literatura’, Tomo II, Año II, Madrid, Real Altamira, 1897, pp. 114-133). Com efeito, depois de longa e brilhante explanação sobre este célebre poeta-trovador espanhol, “um dos homens de mayor graça que o mundo teve”, a autora dá conta da existência em Portugal de um artista conhecido por João de Badajoz, ou apenas ‘Badajoz’, pondo mesmo a hipótese de a obra de ambos andar sobreposta. Para isso cita um ‘Vilancete de Badajoz’ publicado no Cancioneiro de Pero de Andrade Caminha (Ibidem, p. 130), a que complementa com o seguinte comentário: “no ‘Cancionero General’ ha d’elle alguns grupos de versos modestos: uns vilhancios de amor (N.º 667, 668, 669); uma pergunta enigmática, à qual respondeu D. Francisco Fenollet, magnate valenciano, que tomou parte tão principal no Cortesano de D. Luis Milan; ambas em arte de ‘macho e femea’, segundo a antiga moda galeziana (N.º 741): uma resposta a outro Valenciano, aquelle Mossen Crespi Valdaura, que pranteou em 1504 a morte da Rainha de Castella (número 771) e em cuja companhia encontramos não só Gabriel, o musico e poeta, mas ainda o bachiller Alonso de Proaza. Em terceiro lugar ha ahi tres poesias um pouco mais extensas, em coplas redondilhas. Duas se referem a retratos, trocados entre elle e a amada (N.º 883 e 889). A ultima e melhor é uma carta saudosa, remetida de Genova à mesma dama (N.º 887)”. Conclui a autora que “antes de 1511 Badajoz tinha, portanto, pisado solo italiano, estacionando porventura também em Valencia, na alegre côrte do jovem Duque de Calabria” (idem, pp. 131-132).

João Sanches Badajoz surge, portanto, em Portugal à volta de 1511 e já faz parte (ainda que com modesto contributo) do ‘Cancioneiro Geral’ de Resende, editado em 1516. Em todo o caso, a sua fama musical já é grande em 1513, pois só assim se entende o alvará de D. Manuel autorizando que dos seus “escravos que vieram do maguincomguo” (sic) se desse “a Badajoz hum de preço de oyto mil réis” (ANTT, Corpo Cronológico, Parte I, mç. 13, nº 57).

Bem integrado na sociedade portuguesa. Badajoz recebe em 1518 um foro de 19.500 réis por ano (ANTT, ‘Chancelaria de D. Manuel I’, liv. 36, fl. 69), prova mais do que evidente do elevado estatuto artístico de que gozava na corte manuelina. Em 1523, na ‘Farsa de Inês Pereira’, representada no Convento de Cristo de Tomar ante D. João III, Gil Vicente põe na boca de dois judeus casamenteiros que procuram um “marido mui discreto e de viola” para Inês Pereira: “O marido que quereis/ de viola, e d’essa sorte,/ não-no ha senão na corte,/ que ca não-no achareis./ Fallámos a Badajoz/ musico, discreto, solteiro:/ este fora verdadeiro!/ mas… saltou-se-nos da noz!”.

Também ao atento Garcia de Resende não escapou a fama musical de Badajoz, não lhe poupando elogios na sua ‘Miscelânea’ (c. 1534): “Musica vimos chegar/ à mais alta perfeccão,/ Sarzedo, Fonte cantar/ Francisquilho assi juntar/ tanger, cantar sem razão./ Arriaga que tanger!/ O cego que gram saber/ nos órgãos! E o Vaena!/ Badajoz! Outros que a penna deixa agora de escrever”.

Ainda numa nota à “Meditação da inocentissima morte e paixão de Nosso Senhor, em estilo metrificado” (1548), João Barreira, impressor da Universidade de Coimbra, refere certas trovas religiosas “entre ellas um romance apontado singularmente por ‘Badajoz’ musico del rey nosso senhor” (Vasconcelos, ob. cit., p. 133).

E, enfim, para a biografia de Badajoz resta-nos acrescentar que o músico morava em Évora, nas imediações da rua de Machede, pelos anos 1534-36, isto é, durante a estadia da corte portuguesa na cidade (ANTT, ‘Feitos da Coroa’, Núcleo Antigo 286, fl. 161).

Aqui chegados, uma dúvida permanece: que relação de parentesco existiu entre Garci Sanchez Badajoz, falecido em 1526, e João Sanches Badajoz, aparentemente ainda vivo em 1548? A comunhão de nomes e saberes poéticos presta-se, na verdade, a seguir a pista de uma mesma família de músicos-trovadores. Mas, enquanto não se aclara esse possível vínculo familiar, o certo é que ambos os artistas foram referências culturais do seu tempo, quer na corte espanhola, quer na corte portuguesa.

ENTRADAS RELACIONADAS

Hace no mucho descubrí en un grupo de Facebook sobre genealogía extremeña a una persona de origen cubano que decía...
Vamos con otra de esas historias de miedo, del fin del mundo, de “dios mío, ¿Qué me voy a beber,...
Las llamadas al respeto y a la igualdad son continuas en todos los estadios. ‘Respect’ (en castellano, respeto), la canción...
A mediados de marzo subí a la Torre Lucía para dar la bienvenida a la primavera y, de paso, pensar...
Colaboración de Jairo Jiménez con una nueva viñeta de temática social para la revista Grada 188, de abril de 2024....
Ya en la Edad Media se daba gran importancia a la música, no solo como simple entretenimiento y medio para...

LO MÁS LEÍDO