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O mestre pedreiro Diego de Riaño em Lisboa (1517-22)

O mestre pedreiro Diego de Riaño em Lisboa (1517-22)
Foto: Cedida
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Há muito que sabemos da presença do mestre pedreiro Diego de Riãno em Lisboa, local onde andou ‘absentado’ entre 1517 e 1522 após ter atingido mortalmente um colega de ofício (Pedro de Rozas) nas obras da catedral de Sevilha. Com efeito, em carta assinada em Lisboa, a 17 de setembro de 1522, Diego de Riaño suplica o perdão a Dona Leonor, rainha viúva de D. Manuel “por una muerte que dize abia cinco anos” (Cf. Morales Martínez, Alfredo José. ‘Diego de Riaño en Lisboa’. Archivo Español de Arte, Tomo 66, Nº 264, 1993, p. 404).

Se este é um documento de capital importância para a biografia artística de Diego de Riãno, o facto de Dona Leonor se referir expressamente no despacho que o mestre espanhol havia “servido mucho tiempo al Rey my sennor de gloriosa memoria”, isto é, D. Manuel I, mostra como este mestre espanhol trabalhou num dos vários estaleiros régios da capital portuguesa.

Embora faltando o necessário apoio documental, não cabe dúvida que a imensa obra de pedraria do mosteiro de Santa Maria de Belém parece ser o local mais indicado para interessar a um lavrante da qualidade de Riãno. Tanto mais que, precisamente em 1517, o trasmiero João de Castilho (c. 1470-1552) assumia a direção da empreitada, mobilizando um vasto conjunto de pedreiros cântabros, seus conterrâneos. Com efeito, uma rápida análise às dezenas de oficiais registados nas nóminas de Belém, mostra como Riãno, Pamenes, Ramales, Escalante, Rubalcaba, são pequenos territórios da montaña cantábrica associados à onomástica de muitos oficiais do estaleiro de Belém (Pedro de Escalante, João e Pedro de Pamanes, João Gomes de Riaño, João de Rubalcalva).

Acontece, no entanto, que apesar da presença deste João Gomes de Riaño (Rianho) nas nóminas de 1517, o nome de Diego de Riaño está omisso das mesmas. Não é de estranhar esta omissão. De facto, se nos lembrarmos da condição de homiziado deste mestre, decerto a contas com a justiça sevilhana, bem podemos imaginar que a sua presença em Lisboa seja prudentemente discreta, a tocar o anonimato. Donde, algum dos ‘Diogos’ sem apelido que constam das longas nóminas de Belém possa corresponder a este desventurado mestre espanhol.

De resto, foram necessários alguns anos de trabalho na capital portuguesa ao serviço do rei, bem como de um acordo negociado com o irmão da vítima, Aparício de Ramales, também originário da Cantábria e igualmente a trabalhar nas obras de Belém, para que Diego de Riãno tomasse a iniciativa de solicitar o perdão pelo homicídio que praticara em 1517 na fábrica da catedral hispalense.

Conferido o perdão por parte de Carlos V a rogo de sua irmã, viúva do rei português, e após as partes se darem por “contentes” (decerto decorrente de algum tipo de indemnização monetária), Riaño já se documenta em Sevilha em junho de 1523.

O restante percurso desta importante figura do primeiro renascimento espanhol é relativamente bem conhecido em várias obras dedicadas ao mestre e ao contexto arquitetónico sevilhano por mão do professor da Universidade de Sevilha Alfredo José Morales Martinez: em 1526, Riaño conduz a empreitada da igreja de San Miguel, de Morón de la Frontera; no ano seguinte começa a obra da Colegiata de Valladolid; neste mesmo ano surge à frente da campanha ‘ao romano’ do renovado Ayuntamiento de Sevilha, o primeiro edifício público renascentista da cidade; para em 1528 ser nomeado mestre das obras da Catedral de Sevilha, repartindo-se por esta obra catedralícia e a da Colegiata de Valladolid, aqui morrendo em 1534.

Deste atribulado trajeto de vida artística, uma dúvida fica, no entanto: em que medida Diego de Riaño contribuiu para a fortuna decorativa dos Jerónimos de Belém nesses anos decisivos de mudança de paradigma em direção à cultura artística ‘ao antigo’? E o que há do aprendizado português deste mestre na expressão do primeiro renascimento sevilhano?

Para todos os efeitos trata-se de um artista de primeiro plano na história da arte espanhola e a quem Sevilha não esqueceu recordando o seu nome numa das ruas da cidade, por sinal bem perto da conhecida Plaza de España.

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