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Uma nota histórica de 1543 sobre a matriz de Olivença

Uma nota histórica de 1543 sobre a matriz de Olivença
Foto: Cedida
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Em ‘Domminica in pasione’ (Domingo da Paixão) de 1543, a igreja de Santa Maria do Castelo de Olivença foi palco de um ‘alvoroço’, expressão usada no Portugal da época para caracterizar um qualquer acontecimento social disruptivo.

Nesse dia, acabadas as ‘vésperas’, “quatro horas depois do meio-dia”, o juiz de fora e o meirinho da vila (Afonso Moreira) foram ao “cruzeiro a fazer oração (pregão) e depois correu todas as capelas da dita igreja”. Qual era a questão que os trazia a subirem ao cruzeiro levantado no adro da igreja: um Tomé Lobo, homiziado, isto é, fugido à justiça por prática de crime, refugiara-se no interior da igreja, no coro, recusando-se a sair à ordem de prisão que lhe ordenavam as autoridades locais. Nem ele queria sair pelo seu pé, nem os clérigos da igreja permitiam que a justiça da terra entrasse na casa de Deus para resgar com armas um foragido. A este ‘alvoroço’ acudiu o povo oliventino que cercou a igreja…

Tudo isto nos dá a conhecer o bispo D. Diogo Ortiz de Vilhena desde Olivença, em carta escrita ao rei D. João III a 20 de março, dois dias depois dos acontecimentos (ANTT, Corpo Cronológico, Parte I, mç. 73, n.º 65). Importa, desde já, notar a presença na vila oliventina do ‘Bispo-Deão’ (Bispo de Ceuta e Deão da Capela Real). Sobrinho homónimo do epíscopo que se notabilizou nos reinados de D. João II e D. Manuel I como insigne gramático e cosmógrafo, D. Diogo Ortiz recebeu a titulatura de Bispo de Ceuta em 1540. Falecido logo em 1544, devemos encarar esta sua presença ‘física’ como a única ‘visita’ feita a esta sua vila pertencente ao bispado de Ceuta. A ser verdade este facto, mais se reforça a nossa convicção de que esta data (1543) coincide com a finalização do portal da vizinha igreja da Madalena, obra do escultor francês Francisco Lorete, que justamente nesse ano passou a Ceuta também a contas com a justiça.

Todavia, o que mais importa na leitura da “carta do Bispo Deão dando parte a D. João III do alvoroço que o juiz de fora da vila de Olivença fez no Domingo da Paixão, querendo prender Tomé Lobo que se tinha refugiado no interior da igreja da vila” são as breves, mas úteis, referências ao próprio templo manuelino de Santa Maria do Castelo. Assim, sabemos que o dito juiz tornou “à dita igreja a qual ainda tinha as portas abertas que são três” e que “ambas as portas travessas (estavam) abertas de para em par”. E que “toda a igreja que é bem pequena (…) da banda de fora tirando o cruzeiro é tão baixa que por uma escada de quatro degraus podem a ela levemente subir”.

Temos, pois, segundo esta lacónica informação, uma igreja de pouca altura, provavelmente de três naves, as colaterais muito baixas, e em cujas paredes se rasgavam dois portais travessos, um a norte, outro a sul, este habitualmente referido por ‘porta do Sol’, o único, aliás, que permanece.

A propósito destes três portais manuelinos, reafirmamos aqui a nossa convicção de que o atual portal do Ayuntamiento oliventino, obra manuelina de grande qualidade plástica, cujas jambas mostram um tema muito glosado na arquitetura religiosa portuguesa, os cachos de uvas (veja-se, por exemplo, o portal de S. João Baptista de Setúbal), procede do portal axial da igreja de Santa Maria do Castelo de Olivença. As referências cristológicas, os símbolos manuelinos encimados pela cruz de Avis e sobretudo o apuro estético do portal não pode ser de outro local religioso ou civil. Saber-se quando foi colocado na fachada do Ayuntamiento é outra questão que importaria melhor entender.

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